O bico do tentilhão

O bico do tentilhão Jonathan Weiner


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O bico do tentilhão


Uma história da evolução no nosso tempo




"Em minha teoria da evolução há problemas tão graves que jamais pude refletir sobre eles sem ficar desconcertado", afirmou Charles Darwin no século passado. Apesar de suas pesquisas, fortalecidas por uma profunda intuição científica, ele não teve oportunidade de certificar-se de sua teoria. Segundo o cientista, a evolução das espécies aconteceria tão lentamente, que ninguém poderia observá-la. No entanto, 150 anos depois, os pesquisadores Rosemary e Peter Grant mostraram que Darwin se enganou – mas sua teoria está certa. O casal de cientistas, da Universidade de Princeton, estudou o mais celebrado local da ciência da evolução: o arquipélago de Galápagos, no Pacífico, visitado por Darwin e por ele considerado "origem de todas as minhas visões". Ali, os Grant observaram os tentilhões, aves típicas do local, cujos bicos inspiraram as primeiras sugestões veladas de Darwin sobre a teoria evolucionista. Mas se o cientista não pôde permanecer no local para comprovar sua teoria, Rosemary e Peter estiveram lá durante vinte anos. O relato está no O bico do tentilhão, do jornalista Jonathan Weiner. "Não vemos nenhuma dessas mudanças vagarosas e progressivas, pois a mão do tempo marcou o lapso das eras", imaginou Darwin. Mas o trabalho dos Grant mostra que esta evolução é bem mais rápida do que Darwin imaginava. Anualmente o casal ia conhecer cada tentilhão da ilha. Eles reuniam os filhotes em ninhos, mediam-lhes as pernas, a envergadura das asas e os bicos, e recolhiam amostras de sangue para analisar se as modificações morfológicas tinham relação com alterações genéticas. Os cientistas confirmaram a teoria de Darwin, mostrando que a seleção natural existe, e que seus efeitos são visíveis de um ano para o outro. Eles documentaram mudanças significativas nos tentilhões: depois de uma seca, em 1977, o número deles foi reduzido em 85%, os pássaros sobreviventes cresceram em tamanho e envergadura das asas, e seus bicos ficaram maiores. Posteriormente, observou-se que os bicos da próxima geração eram maiores. Em 1983, tempestades e tormentas transformaram o clima desértico de Galápagos, e a tendência reverteu-se: nesta época, os bicos das futuras gerações dos sobreviventes diminuíram, adaptando-os às pequenas sementes. Constatou-se mais uma vez a evolução. Para Weiner, Darwin não soube avaliar a extensão de sua própria teoria. "A seleção natural não é nem rara nem vagarosa. Ela orienta uma evolução que ocorre dia a dia, hora a hora, em tudo ao nosso redor, e podemos observá-la", diz ele.

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Guilherme
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11/01/2009 14:33:32