O desafio da grande saúde em Nietzsche

“Em uma fase mais tardia de sua obra, Nietzsche aponta uma questão que vai chamar de grande saúde. Esta grande saúde reflete o seu pensamento trágico e uma vontade - o eterno retorno e a vontade de poder. A partir da identificação destes conceitos, é possível entrever uma saúde que não busca a conservação, não busca valores transcendentes ou se afirma na moral. A esta saúde que vai afirmar a vida e simultaneamente a dor e a morte, e que pulsa, vital, mesmo na doença, esta saúde do pensamento, a esta alegre saúde, Nietzsche chama grande saúde.”



“ Nós, os novos, os sem-nome, os difíceis de entender, nós, os nascidos cedo de um futuro ainda indemonstrado - nós precisamos, para um novo fim, também de um novo meio, ou seja, de uma nova saúde, de uma saúde mais forte, mais engenhosa, mais tenaz, mais temerária, mais alegre, do que todas as saúdes que houve até agora. Aquele cuja alma tem sede de viver o âmbito inteiro dos valores e anseios que prevaleceram até agora e de circunavegar todas as costas desse ‘mar mediterrâneo’ ideal, aquele que quer saber, pelas aventuras de sua experiência mais própria, o que se passa na alma de um conquistador e explorador do ideal, assim como de um artista, de um santo, de um sábio, de um legislador, de um erudito, de um devoto, de um adivinho, de um apóstata no velho estilo: este precisa, para isso, primeiro que tudo, de uma coisa, da grande saúde - de uma saúde tal, que não somente se tem, mas que também constantemente se conquista ainda, e se tem que conquistar, porque se abre mão dela outra vez, e se tem de abrir mão!...”

Nietzsche, A Gaia Ciência



“Maria Cristina Amorim Vieira é graduada pela Faculdade de Medicina de Campos - RJ, mestre em Filosofia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Atualmente cursa o doutorado em Filosofia na mesma Instituição.”