No quadro lógico dos séculos XVI e XVII, na mesma medida em que tudo era pecado, quase nada era efetivamente um grande pecado, quase nada era objeto de escândalo e indignação. Havia como que uma banalização da falta moral, um despojamento de seu lado trágico. Um bom exemplo disso é o incesto: na mesma medida em que uma gama enorme de relações sexuais eram incestuosas, o incesto era moralmente menos abominável ao olhar desses séculos, que o será no limiar do século XX. Semelhante diluição realizava-se em relação aos pecados da luxúria 'reais' e 'mentais'. Já que o 'estupro' real - a relação sexual com virgem - e o 'estupro mental' eram considerado igualmente graves, quem sabe se não valeria mais a pena pô-lo em prática do que desejá-lo? Além do mais, não existia pecado imperdoável, Deus sendo incomensuravelmente generoso e compreensivo; compreensivo no entanto apenas com os que se dobrassem às regras eclesiásticas formais.