O mais rico dentre os homens do Oriente
Observa a calmaria, o aquietar-se do carvalho, o sossego das árvores frondosas, encolhidas as andorinhas ao advento crepuscular, ao declínio do reinado diurno, quando o movimento das alimárias persegue o alimento com o silêncio da prudência espreitadora. Todo deslocamento é leve como a brisa, constante em seu todo, e, em sua monotonia, delineia a quietude da floresta, o cricrilar dos grilos, o conjunto dos sons suaves que habitam a mata tranqüila e forma o seu murmurinho silencioso. De repente, a rajada de um ciclone põe a selva em alvoroço, as folhas caídas embarcam no redemoinho, os olhos das aves adormecidas se arregalam, os ruminantes retornam ao abrigo das tocas, porque a turbulência venceu o repouso, e a letargia se foi. Observa o céu desanuviado, a serenidade imperturbável habita seu aspecto azulado, o sol lança seu máximo calor sobre as ervas silvestres que medram descampadas; mas um aguaceiro desponta no horizonte, e a abóbada enegrece. Observa a lealdade do inexperiente, a altivez de um sentimento incólume, o palpite de que sua fidelidade é imperturbável em perseverança, até que a tentação prova sua retidão... e sua queda altera o curso de sua vida. Deus, porém, não é como o talo imóvel da erva que o vendaval sacoleja. Quem deslocará as montanhas de Sefar? Usarás o buril para movê-las de seu sítio? Mais fácil te será desviar o curso lunar que fazer Shaddai irromper o silêncio se ele quiser calar-se.
4 discursos edificantes, 1843
Em um país do Oriente viveu homem cujo nome era Jó; ele possuía as bênçãos da terra, rebanhos abundantes e ricos pastos. Suas palavras levantavam o trôpego e sustentavam joelhos cambaleantes. Sua tenda era abençoada para nela viver como no seio do céu, e em sua tenda vivia com sete filhos e três filhas, e com ele na tenda vivia "a amizade de Deus". Jó era um ancião; a alegria de sua vida era a alegria de suas crianças, e sobre elas velava temendo que não se tornasse sua ruína. Um dia, quando seus filhos estavam celebrando juntos na casa do primogênito, Jó sentou-se sozinho ao lado de sua fornalha. Quando tinha oferecido um holocausto por cada um deles, seu coração estava disposto a regozijar-se no pensamento da alegria de seus filhos. Enquanto sentava-se ali na segurança quieta da alegria, chegou um mensageiro, e antes que acabasse de falar, chegou outro, e enquanto este ainda falava, veio-lhe terceiro mensageiro, mas o quarto mensageiro veio de seus filhos e filhas, com a notícia de que a casa desabara enterrando a todos. "Então Jó se levantou, rasgou seu manto, rapou sua cabeça, caiu por terra e adorou." Sua dor não fez uso de muitas palavras, mesmo não disse uma única; sua aparência apenas testemunhou seu coração alquebrado.
Filosofia