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TV Record pediu para que desenhasse em 20 quadros os retratos do holocausto – com tudo que tinha direito – pensei nas histórias que ouvi a vida inteira, como faria os retratos do holocausto? O que poderia sair destas surradas mãos? Os resquícios dos meus pais poderiam emergir por entre as telas? O cheiro das cinzas dos quadros tocaria o olfato do expectador? Uma profusão de pensamentos tomou conta de mim, no ateliê com pincel na mão, tintas virgens e tela, imaginei corpos nus empilhados em pequenas salas tragadas pelo fogo, despidos de qualquer dignidade, com doenças incuráveis e raquíticas. Crianças correndo em filas para carros com alto-falantes a tocar doces canções pedindo para que subissem para a terra do nunca... malas empilhadas pelas ruas do gueto, pilhas de dentes de ouro, óculos, anéis. Pensei em Auschwitz levando em trens, humanos, para que em nome do ideal psicótico e estético de reformar a humanidade, pudessem habitar o Éden.
Literatura Brasileira