O ovo do Barba-Azul não é uma simples coletânea de contos e sim uma obra concebida com organicidade própria e propósito deliberado: o de investigar o comportamento dos representantes de ambos os sexos quando confrontados com o amor, a família, o casamento, a sexualidade, a infidelidade e a morte. Enfim, todo o inventário de temas ao mesmo tempo tão complexos e corriqueiros que constituem a essência da condição humana, desde a adolescência até a velhice. Trata também da relação, igualmente delicada e complexa, dos seres humanos com a natureza, mítica e mágica, que ora oferece consolo e refúgio, ora assusta e oprime, como se não passássemos de indesejáveis intrusos dos quais seria preciso se livrar.
Erudita e sofisticada, dotada de pleno domínio do seu ofício, Margaret Atwood é, ao mesmo tempo, profundamente telúrica, meio fada, meio feiticeira, um pouco psicóloga e um pouco pitonisa. Sua prosa envolve o leitor em um universo tão cativante quanto inquietante, pelo fato de constituir um espelho fiel do homem moderno, dividido entre o sublime e o ridículo, hesitando entre o impulso de fuga e o de combate, entre o apelo do heroísmo e o morno consolo da covardia.
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