Os poemas de Ronaldo Cagiano cobrem um amplo espectro de temas e formas, que vão do sentimento amoroso à reflexão indignada com os desmazelos do tempo presente.
Desde o mito de Sísifo reatualizado na marcha noturna de pesadelos ao noticiário sensacionalista que explora os dramas humanos como espetáculo, a poesia ainda parece resistir como um discurso às avessas, no contrapelo do embrutecimento paulatino, diário, a que todos estamos submetidos.
As feridas na consciência sempre acesa do poeta permanecem abertas e expostas ao calor da hora, num ”território labiríntico, onde a morte,/ concubina do tempo,/ como um Minotauro reciclado desafiando Dédalo,/ resiste aos fios que uma Ariadne qualquer/ em vão estica”.
O sentimento de impermanência e de precariedade ronda a poesia e exige do poeta uma tomada de posição, no sentido de enfrentamento das verdades provisórias, do ”cipoal de engodo político” e do ”aparato ruidoso do medo”, ou da ”linguagem impenetrável dos exílios”. Não há engajamento com a linguagem literária que não seja também o engajar-se com as questões que se debatem no mundo e que estão longe de serem resolvidas por cálculos e estatísticas.