O teatro da rotina

O teatro da rotina Alex Xavier


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O teatro da rotina





Pessoas rotineiras, também chamadas de pessoas-algoritmo, defendem os velhos hábitos com força e convicção, pois suspeitam − de maneira até neurótica − que sua existência depende da repetição cotidiana de gestos e pensamentos bastante familiares. Tentam levar uma vida tranquila, protegidas de qualquer ameaça inesperada por um rigoroso sistema de segurança comportamental. Confesso que eu sou uma dessas pessoas-algoritmo. Sou tão rotineiro quanto um gato doméstico, e sempre apreciei muitíssimo todos os infinitos pequenos, médios e grandes hábitos que − justiça seja feita − se esforçaram muito pra me manterem vivo e saudável até hoje. Para nossa diversão, Alex Xavier selecionou um grupo de pessoas rotineiras − gente igual à gente − e decidiu realizar com elas um experimento psicológico e sociológico dos mais sacanas. O autor inseriu no sossego cotidiano dessa galera um inesperado elemento disjuntivo, um ruído capaz de bagunçar a harmonia mais resistente da mesmice mais sossegada. É claro que se esse inesperado elemento disjuntivo fosse algo da ordem do provável − um acidente de carro, um blecaute durante uma tempestade, um assalto ou até mesmo um ataque terrorista − os contos aqui reunidos ainda estariam rotineiramente instalados na zona de conforto da literatura realista-naturalista. Mas o sadismo do autor jamais permitiria sequer o mínimo sossego oferecido pelo bom e velho realismo-naturalismo. Alex Xavier, perverso, introduz na rotina de seus personagens uma mosca criativa, um dragão abusado, um implante consciente, um bonsai dos infernos, um pouco de invisibilidade, uma perigosa viagem a Marte, um bom número de zumbis e de abstrações emocionais, certa subversão do tempo e do espaço, uns quilos de irrealidade virtual, uns litros de desinteligência artificial, o próprio apocalipse… Bendito sadismo.
Nelson de Oliveira

Alex Xavier nasceu em São Paulo, em 1975. Jornalista e crítico de cinema, passou por redações como a da revista Veja São Paulo e a do jornal O Estado de São Paulo. Refugiado na ficção, foi aluno do Curso Livre de Preparação de Escritores (Clipe), da Casa das Rosas, participou das coletâneas Não Pretendia Criar Discórdia (Giostri, 2017) e Eros Ex-Machina (@link, 2018), produz zines como membro do coletivo Discórdia e teve textos publicados em revistas literárias como Subversa, Vacatussa, Gueto e Escriva. Seu conto Tortura do Método, que integra este livro, recebeu Menção Honrosa no Concurso de Contos Paulo Leminski de 2017.

Contos / Literatura Brasileira

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Eduardo A. A. Almeida
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06/09/2018 07:51:49

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