Off Uma História de Teatro

Um dos maiores autores da televisão brasileira apresenta um delicioso texto: uma reflexão sobre a maturidade, o teatro e a memória. Assim é Off - Uma história de teatro, peça que Manoel Carlos lança no formato de livro, pela Editora Globo.
Em uma única noite, uma atriz no ocaso de sua carreira passa pelas mais distintas emoções. Ao receber um importante prêmio pelo conjunto de sua obra, uma série de situações se seguem: telefonemas, presentes, telegramas e uma visita inesperada. Partindo deste mote, Manoel Carlos traça com maestria uma trama em que discute o papel da crítica, a percepção do tempo e, acima de tudo, as relações pessoais. Estas, através de inteligentes diálogos e situações advindas da sutil observação do cotidiano, proporcionam deliciosas gags e em algumas cenas beiram o nonsense.
Acompanhada de sua fiel escudeira, a doméstica Zu, Thelma Cordeiro, a atriz homenageada, lida, além das conseqüências do prêmio, com a expectativa alheia e sobretudo com a relação ambígua dos ídolos com o sucesso e a crítica. A partir da visita inesperada do personagem Plínio Franco, que acaba por se configurar num encontro verdadeiramente inusitado, ex-crítico de teatro, implacável questionador do trabalho alheio, cria com a protagonista tensões que trazem ao texto novas dinâmicas, propondo questões mais reflexivas, como os afetos na maturidade, os casamentos, a memória e o papel da arte como intermediária entre o homem e suas grandes inquietações.
Manoel Carlos, que reconhecidamente trouxe para a televisão brasileira um raro refinamento nos diálogos e na criação de situações, além de um esmero incomum no manuseio da palavra, confirma em Off que o domínio da dramaturgia, aliado a uma sensível observação dos comportamentos sociais, nas mãos de um autor iluminado, propicia à audiência, ou no caso deste livro, ao leitor, a ampliação do entendimento de valores às vezes desprezados. Como nos versos de Drummond, Manoel lança seu foco na vida, "a vida apenas, sem mistificação", vida que se vive a cada dia, e na qual muitas vezes não se percebe a força arrebatadora de seus momentos mais prosaicos, ou a beleza insuspeita dos encontros inesperados.