O candomblé, formado à princípio pelas tradições religiosas dos grupos negros africanos, aos poucos passou a constituir uma opção religiosa para os vários segmentos de nossa população.
Assim, de uma religião exclusivamente de sobrevivência e/ou resistência dos grupos negros ou das classes sociais baixas, o candomblé no contexto urbano tem revelado sua outra vocação.
Afirma-se cada vez mais como uma religião de conversão universal que soube romper com as antigas clivagens étnicas ou visões fechadas de mundo para abrir-se ao diálogo com o mundo moderno no qual está inserido.
Este livro, considerando essas transformações procura entendê-las através do desenvolvimento do candomblé na metrópole - a cidade de São Paulo tomada aqui como exemplo. Para isso persegue tanto na dinâmica da cultura urbana como na da cultura religiosa os pontos de convergência que possibilitem a reinterpretação de um universo pelo outro. De que forma antigas divindades que representam as forças da natureza, os orixás, podem ser cultuados sob as condições aparentemente adversas da metrópole (secularismo, racionalidade e escassez crescente de espaços naturais) é um dos pontos ressaltados na análise.
Enfim, a passagem de uma religião de aldeia, como era o candombé em sua origem mais remota, para uma religião de forte presença no cotidiano das pessoas da cidade é o que busca traçar esse livro em seus vários níveis.