Foi no ano de 1841, quando tinha 46 anos de idade, que Thomas Carlyle reuniu em um volume intitulado "OS HERÓIS", as conferências que fez em Londres, desde 1837 e que se referiam a algumas grandes figuras da história antiga e moderna. Quando começou suas conferências, Carlyle acabava de publicar sua "História da Revolução Francesa". Mas ainda não conseguira atingir a glória literária; então foi compelido a fazer conferências para manter-se e à sua esposa.
Se Carlyle escolhia temas relativos aos heróis para essas conferências, era porque a devoção que êle tinha por esse tipo de personagem derivava da sua própria filosofia. Ainda adolescente, Carlyle afastou-se do calvinismo escocês no qual fôra educado. Durante muitos anos procurava o elemento espiritual que fosse capaz de o impedir de se tornar ateu. Estudando os filósofos alemães, acabou por adotar o ponto de vista de J. G. Fichte (1762-1814) que admitia a existência de uma "Idéia Divina" dominando o universo visível... Para a massa dos homens, essa "Idéia Divina" permanece oculta; mas o resultado de cada esforço espiritual acabava sempre por descobri-la".
Para Carlyle os heróis antigos e modernos eram inspirados pela "Idéia Divina" de Fichte. Carlyle afirmou então que o conhecimento da história do mundo resulta do estudo da vida dêsses heróis. Essa foi a principal inspiração de suas conferências. Como escreveu H. Taine, "quaisquer que fossem os poetas, reformadores, escritores, homens de ação, profetas, a todos concedia um caráter místico".
Essa escolha idealista faz de Carlyle um adversário das tendências políticas e sociais em moda no século XIX. Era homem de idéias muito avançadas, pois previu já então a época em que os patrões, que êle assimilava a um dos tipos de heróis, viriam a pensar que é "possível e necessário conceder a seus empregados um interêsse permanente nas suas empresas".
Como escreveu Rui Barbosa em "Francia e Rosas", Carlyle "não era um coração árido... era uma alma heróica e chamejante das paixões mais generosas, uma virtude de adamantina integridade, um gênio suscetível de todas as grandes emoções da eloqüência e da poesia".
Contudo, Carlyle que insistia tanto sobre a necessidade de um governo de heróis, nunca chegou a explicar claramente como esses heróis deviam ser escolhidos. Para êle o governo por meio do herói era mais uma convicção religiosa do que um principio politico; literalmente, era adoração do que o homem tem de divino. A tal respeito, Rui Barbosa escreveu que "o resultado final, porém, é a divinização da energia triunfante, èsse culto dos heróis, que inspirou a Carlyle o mais notório dos seus livros".
Carlyle acreditava que o homem bom, com inteligência superior à dos outros homens, era predestinado a se tornar um herói. Foi por isso que êle brandiu a tocha do idealismo em um século materialista; atacava sem descanso as injustiças sociais. Mas o que êle não previu foi a ameaça que um absolutista dotado de poder total poderia representar.
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ÍNDICE
- Primeira conferência:
O herói como divindade. Odin. Paganismo. Mitologia escandinava.
- Segunda conferência:
O herói como profeta. Maomé: Islam
- Terceira conferência:
O herói como poeta. Dante; Shakespeare
- Quarta conferência:
O herói como sacerdote. Lutero: Reforma; Knox: Puritanismo
- Quinta conferência:
O herói como homem de letras, Johnson; Rousseau; Burns
- Sexta conferência:
O herói como rei, Cromwell; Napoleão: Revolucionarismo moderno
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