Os Sertões Mais Curto

Condensar Os sertões é uma aventura intelectual e pedagógica. Os riscos são principalmente dois: a) baratear a difícil obra euclidiana, ou: b) perder-se no emaranhado de sua construção, de suas inúmeras veredas, e torná-la ainda mais difícil do que é. Felizmente, a professora Célia, muito consciente desses riscos, soube desviar-se deles e ultrapassá-los.
Assim, o leitor encontra-se diante de um trabalho de extrema utilidade, que dá excelente notícia da obra euclidiana e ao mesmo tempo torna-a legível para qualquer público. Contudo, quem mais ganha é o público jovem, que quer se iniciar em Os sertões, penetrar-lhe os grandes temas, percorrer seus variados assuntos e conviver com boa parte da força narrativa, descritiva e de análise histórica que ele contém.
E isso não é pouco. Porque a condensação alcançada pela autora dispõe de todos esses elementos, constituindo um ímã sedutor para quem a lê e, prontamente, se interessa em chegar à obra euclidiana, para um enfrentamento intelectual de grande porte.
Os méritos deste trabalho não se esgotam aí. Acompanha-o a sensibilidade e inteligência da autora, construindo uma linguagem acessível (inclusive com notas de rodapé muito esclarecedoras), a qual também incorpora palavras, frases e trechos de Euclides, sem que o leitor sinta solavancos. É uma fusão inventiva, que torna presente o grande escritor, embora sabendo-se que há outra mão escrevendo com ele.
A rigor, esta condensação é uma dívida antiga que agora está sendo paga, colocando ao alcance de jovens e interessados em geral o acesso ao grande livro euclidiano, mais de cem anos depois de sua publicação. Em outros países, mais chegados em educar seus jovens, isso já teria sido feito há muito tempo. É um avanço pedagógico, didático e uma contribuição para que Euclides se torne acessível de fato, depois de ser corretamente e adequadamente feita a iniciação para isso.

Valentim Facioli