Este livro compreende quinze anos de pesquisa continuada sobre saúde mental e psicanálise, empreendida por seus autores. Durante este tempo, muitas outras experiências foram se impondo, no cenário nacional, como modelos para a escuta de paciente graves acolhidos em Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e outros serviços substitutivos de saúde mental. Entre 1999 e 2014, mudou a paisagem de problemas e de soluções. Acreditamos que se trata de um ciclo que se encerra, fechando consigo os grandes avanços trazidos pela reforma sanitária brasileira dos anos 1980, que gerou a consolidação do Sistema Único de Saúde e da reforma psiquiátrica dos anos 1990, que levo a cabo os propósitos da luta antimanicomial. O nosso primeiro objetivo neste livro foi delimitar as condições históricas pelas quais a psicanálise se implantou e adquiriu feições próprias em um país no qual, a princípio, nada a predispunha. Ao contrário da França, onde a chegada da psicanálise foi tardia e teve que se haver com a forte tradição psicológica e alienista, ou de países anglo-saxônicos que deram a ela uma medida relativa de integração com as psicologias ascendentes, no Brasil podemos dizer que a psicanálise foi precoce. Ela participou ativamente das primeiras discussões formativas em torno da brasilidade, e ocupou um lugar de vanguarda na produção de nosso complexo asilar, e posteriormente, na implantação do sistema de saúde mental no Brasil. Esta característica peculiar ainda não foi propriamente incorporada nem pelos psicanalistas tradicionais, nem pelas novas tradições que reformaram e renovaram este campo a partir dos anos 1980...
Psicologia