Desterrorama 30/12/2022
um recorte do Japão no pós-guerra
em "vida à deriva" Yoshihiro Tatsumi realizou no mangá aquilo que Alain Resnais fez no cinema: transformar memória coletiva em imagens em movimento. enquanto vemos o Japão do pós-guerra como pano de fundo, Tatsumi nos apresenta a geração de mangakás (quadrinistas) dos anos 50-60 que cresceram lendo Osamu Tezuka ("lost world", "metropolis", "faculdade de mangás") entre outros autores nos kashihons da vida (locadoras de livros e mangás das quais se tornaram posteriormente as primeiras editoras de quadrinhos alternativos). nos anos 50 essa geração criou o gênero "gekigá", que são mangás experimentais com uma dose de realismo, fortemente influenciados pelo cinema e pelos pulps hard-boiled, mais focados em histórias casuais, sobretudo no cotidiano, indicados para leitores maduros. mergulhamos profundamente nesse recorte do mundo competitivo das editoras e na trajetória desses artistas. sentimos na própria pele os sentimentos contraditórios dos personagens: a angústia mesclada com a felicidade no ato de criação, o anseio pela rejeição de suas obras e a inveja pelo trabalho alheio, que tanto os motivava. entretanto, também admiramos o amadurecimento deles e da linguagem que criaram.