Deitado em sua cama, num quarto do hotel, João Simões pensava na primeira vez que vira Luiza Braga, sentada em sua cadeira de balanço, na varanda de sua casa, na fazenda, com os olhos fixos no milharal. João já havia visto mulheres bonitas, mas Luiza Braga não era só beleza, era também alguma coisa selvagem, indomável como o vento que soprava do interior. E era, também, serena, como as românticas noites de luar que cobriam o milharal. Luiza tinha um rosto dourado pelo sol e parecia encarnar a própria natureza em toda a sua beleza. Os cabelos amarelos eram ouro puro, emoldurando a beleza daquele rosto. Luiza ficara impressionada com ele. Seus olhos azuis traduziam simpatia. João entendera isso logo. Estava acostumado a interpretar toda e qualquer manifestação feminina de agrado. Era um bom vendedor. Tinha boa aparência e sabia se comunicar. Vender era sua profissão; conquistar as mulheres, sua diversão. Sua passagem por Ginetes prometia ser tranqüila e prazerosa. O que João não sabia era que estava pisando em terreno perigoso, que o levaria ao centro de um conflito de almas torturadas pela dor e pela solidão. Envolvido nesse drama, viu-se forçado a lutar por Luiza. Só que Carla surgiu em sua vida e isso fez tudo mudar de figura.