Sair da piscina

Sair da piscina Victor Squella


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Sair da piscina





Há quem acredite que um bom livro de poesia é aquele que inaugura uma língua nova dentro da própria língua. Outros, menos radicais ou românticos, já acham que é na decalagem e no deslocamento da linguagem cotidiana, e seu consequente estranhamento frente aos leitores, que reside a qualidade da obra poética. Se Sair da piscina, segundo livro do carioca Victor Squella, cumpre algum desses requisitos da boa poesia, caberá aos leitores e críticos, com o tempo, responderem. Mas o fato é que os poemas que compõem essa nova coletânea se agrupam na tentativa de encontrar, como revela uma das peças, “um animal mítico & furioso / para colocar no centro da língua”.

Tal animal é também a própria linguagem, que ora soa tão distante e clássica, o que dá certa pompa irônica aos poemas apresentados, e ora se encosta na coloquialidade íntima característica da produção atual. Não por acaso, a língua, neste livro, é a “primeira coisa a ser sacrificada / para os deuses da casa”, já que é com sua destruição e seu deslocamento que deixa que deuses mitológicos apareçam, aos montes, na enigmática narrativa em jogo. Assim como também aparecem outras figuras, tal qual Telêmaco, personagem que abre e fecha Sair da piscina, e que, pela mitologia, é a figura perdida em seu próprio tempo, alguém que não sabe bem por onde começar e precisa de uma intervenção divina para ter uma pista.
Na tentativa de contar uma história que é própria, e recriar um passado novo por cima do antigo, língua e memória se entrelaçam e se confundem nas entradas do livro. Por elas serem terrenos sempre muito frágeis, os poemas são permeados de gagueiras, de variações, de novas tentativas. É assim também que surge a presença do corpo, como uma estátua de mármore que entra e sai da água da piscina. E essa figura é também do pai, aquele de quem se herda o nome, do qual tenta se lembrar como quem monta um quebra-cabeças antigo, e confunde as peças, e confunde os idiomas.

Esse movimento em jogo é sobre ter um nome, e saber lidar com ele. Um nome para si e outros, aos montes, para nomear as coisas, e, desse jeito, conseguir deixá-las imóvel, para sempre. Por isso Sair da piscina é sobretudo uma prece, dividida entre dois livros. Uma prece a um deus que ainda não existe, mas é inventando cada vez que os poemas se aproximam do seu nome. Aproximação essa que às vezes é confusa, incorre ao erro, mas, como denuncia o poema, é apenas por via do erro que se pode começar uma religião.

Poemas, poesias

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