A medicina ter avançado nas últimas sete décadas mais do que em toda a história da humanidade e, apesar disso, os pacientes idosos falarem com nostalgia dos médicos de antigamente é o grande paradoxo da modernidade. Em tempos de Inteligência Artificial, os médicos do futuro só se manterão inalcançáveis pelo robô quando tratarem não apenas das doenças, mas das pessoas que adoeceram. Esta tarefa delicada exige dos médicos um protagonismo que só conseguem oferecer aqueles que gostam de gente e descobriram o encanto de ajudar, e os que se expõem, diariamente, às vicissitudes do convívio humano no limite do sofrimento, da perda e da dor. E eles precisam oferecer alívio, repartir ansiedade e preservar esperança, vibrando com as conquistas merecidas e não se escondendo para chorar nas tristezas inevitáveis.
Na medicina de alta complexidade, a parceria é indispensável e não existem tarefas secundárias, porque o trabalho de equipe só se completa se todos se sentirem valorizados, como a funcionária da limpeza que voltou para assumir um plantão noturno porque lhe pareceu injusto que outra pessoa fizesse a faxina do bloco cirúrgico onde seria realizado o primeiro transplante de pulmão da América Latina. Ou como a mãe que aceita doar os órgãos do seu filho para que uma mãe desconhecida seja poupada de igual o sofrimento.
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