Nesse tratado de teologia mística, a via negativa ou apofática encontra seu ponto culminante. A linguagem alvança aqui uma força excessiva, contundente e fascinante, que a tradução de Marco Lucchesi captou com grande beleza. Para falar d'Aquele que se encontra acima de toda linguagem, só a figura e a força dos oxímoros, o reforço da "mística da ignorância" ou o precioso recurso ao silêncio. O acesso ao seu significado oculto, densificado na "nuvem escura" (Ex 20,21), só pode ocorrer mediante a contração das palavras, pelo recurso da sugestão e da alusão. Marco, esse grande amigo, em Jesus e Rûmî, transporta-nos pelos caminhos da mística ao desafio da dilatação da linguagem, do aprendizado da da alteridade, do exercício do desapego e da abertura à gratuidade do mistério sempre maior. Na base escondida do tradutor há uma semente viva que pulsa ardentemente e aponta para o horizonte inusitado do inefável. As vozes do místico e do peregrino se confundem numa suave harmonia que convida ao apelo: "Deixa-te conduzir para o alto".