Territórios-Rede em Movimento

Territórios-Rede em Movimento Luísa Marques Dias


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a ocupação da Biblioteca Engenho do Mato




Novos ciclos de manifestações populares eclodiram mundo afora no decorrer da segunda década deste século XXI, mobilizando corações e mentes interessadas não apenas em tomar parte neles, mas também em compreender seus motivos, inspirações, características e possíveis desdobramentos. No caso brasileiro, algumas das principais referências desse ciclo de protestos envolveram a organização dos diversos Comitês Populares da Copa por todo o Brasil, as Jornadas de Junho em 2013 e a onda de ocupações de escolas ocorrida em diferentes estados brasileiros em 2016.

Tais experiências ocorreram em diferentes partes do país e se inseriam em um contexto fortemente influenciado pelos ajustes sócio-espaciais decorrentes da crise global provocada pela sanha do capital financeiro que levou à existência e ao estouro da bolha especulativa do setor imobiliário estadunidense em 2007 e 2008. Em termos econômicos, tais ajustes foram estimulados pelo Estado brasileiro por programas de incentivo à economia de abrangência nacional ₋ como o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e o Programa Minha Casa, Minha Vida (PMCMV) ₋, por grandes projetos de reestruturação urbana ₋ como o projeto Porto Maravilha, no município do Rio de Janeiro ₋ e pelos recursos que irrigaram a construção da infraestrutura necessária à recepção dos megaeventos esportivos ocorridos em 2013 (em todo o Brasil) e 2016 (no Rio de Janeiro, em particular), dentre outras formas. Já do ponto de vista político-institucional, por sua vez, esses ajustes cobravam seu preço por meio de processos que incidiam diretamente no cenário político-partidário nacional, como a deflagração das investigações reunidas sob a alcunha de Operação Lava Jato (a partir de 2014) e o golpe parlamentar direcionado contra a então presidenta da república em 2016.

Paralelamente a isso ₋ não como novidade completa, mas sim como continuidade de tradições importantes do campo da esquerda política ₋ a população desenvolvia também suas ações a partir de distintas formas de organização que eram, de alguma maneira, perpassadas por esse contexto político-econômico, seus eventos, seus clamores e temores. Em meio à diversidade de pautas, formatos organizativos, composição social e inspirações político-filosóficas do campo progressista, é sempre relevante lembrar que havia aqueles sujeitos que se engajavam em experiências que nutriam críticas às formas e processos organizativos já tradicionais no amplo espectro da esquerda nacional. Ao se alimentarem de reflexões e demandas por formas de organização política mais afeitas à horizontalidade e aos princípios da autogestão e auto-organização, tais grupos e ações renovavam as energias de um campo político específico que sustenta críticas e cultiva alternativas às práticas mais verticalizadas, vanguardistas e heterônomas que hegemonizam a esquerda ₋ mesmo que nem sempre fossem (ou sejam) bem-vistas pelo restante desse campo.

Algumas dessas experiências de organização política coletiva apostavam (e seguem apostando!) em dar continuidade à tradição que parte da esquerda tem ₋ sobretudo aquela com inspirações mais próximas ao campo libertário ₋ de construir espaços prefigurativos, caracterizados por serem locais onde seus protagonistas defendem a importância de se colocar em prática imediatamente os valores e relações que projetam para o mundo que desejam que exista futuramente. O que não é novidade em meio aos ativismos populares é que qualquer espaço desse tipo tende a atrair mais pessoas quando estes se propõem a responder a necessidades concretas do seu público-alvo. O resultado disso é a aproximação tanto de indivíduos já sensibilizados por formas afins de mobilização coletiva (ou que guardem algum tipo de estranhamento quanto às formas de fazer político que predominam na esquerda) quanto de pessoas que terão nesses espaços suas primeiras experiências de ativismo. Por essas e por outras, os espaços prefigurativos desempenham um papel crucial do ponto de vista político-pedagógico.

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Sidnei Andrade
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