A partir de 1991, num que não pára, as fábricas foram demitindo operários, funcionários e engenheiros; a propriedade do capital foi se concentrando, procurando integrar verticalmente toda a cadeia produtiva. Alguns entre nós queriam manter intactas as idéias herdadas de um passado heróico; outros, como eu, começavam a refletir sobre o que seria a nova etapa de globalização da economia e o processo de reestruturação produtiva que se seguia à derrocada do fordismo. mas nenhum de nós imaginava quão devastadora seria a passagem deste novo furacão sobre as nossas vidas.
Tão devastador que, organizando agora estes escritos para publicação em livro, não imagino outra palavra para designar a nossa vontade de então: um sonho. Sonho de uma classe operária que civilizasse este país, domesticasse as suas elites, acostumando-as à igualdade de direitos e de tratamento e ao respeito à cidadania. Este era o movimento que se alastrava desde finais dos anos 70, com a crise do autoritarismo, e que seguiu aprimorando este sonho de classe e de nação.