Uma oferenda musical / 2 Discursos edificantes, 1843 / 2 Discursos edificantes, 1844

Uma oferenda musical / 2 Discursos edificantes, 1843 / 2 Discursos edificantes, 1844 Søren Kierkegaard


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Uma oferenda musical / 2 Discursos edificantes, 1843 / 2 Discursos edificantes, 1844 #3





Uma oferenda musical

Procuramos por aquela serenidade a abraçar as colinas com seu nevoeiro encantador; quando o sol e a neblina lutam entre si para fazer prevalecer sua influência sobre a charneca que ajardina uma paisagem magnífica. Procuramos pelos retalhos remendados da luz desbotada sobre o lago venturoso em sua calma salutar. Procuramos por aquele rincão desabitado de toda altivez tecnológica em jactanciosa narrativa de seus feitos formidáveis: a exploração da lua, a transposição ligeira do submarino sob a superfície dos oceanos, a pesquisa conjunta das nações a desvendar os segredos gelados do Pólo Sul, e, em breve, uma bandeira da última expedição espacial fincada em um dos desérticos planetas do sistema solar, a qual deve estar imbuída de um apetrecho eletrônico e apto a emitir um sonido somente perceptível a alguma suposta subespécie de vida incapaz de suportá-lo — esta a evolução que o gênero humano alardeia, uma que esconda a conflitante degeneração do mundo sob o efeito desse desenvolvimento evolutivo, que esconda sua mediocridade em massa, sua imersão voluntária na falta de sentido negligente em que os homens vivem como bestas atraídas ao seu destino pelo faro e apetites obtusos. Procuramos, antes bem, por um crepúsculo que não se proteja contra o declínio solar com a ofuscante luminosidade artificial; quando a noite apazigua a inquietude diuturna, sem que sua oferta generosa de descanso seja rejeitada pelos guinchos da execução radiofônica e do sucesso destemperado em decibéis. Procuramos pelo suspiro dos juncos curvados sob a ventania súbita, pelo marulho quase imperceptível das tranqüilas vagas da maré bonançosa, pela vastidão não inibida pela construção civil. Summa summarum; procuramos pelo florescimento da linguagem que expresse encantadoramente o nosso conteúdo sugestivo.

2 discursos edificantes, 1843

"É bom ouvir isso, são grandes palavras e uma maneira de falar eufônica, mas em verdade a seriedade da vida ensina algo mais". O que, então, a seriedade da vida te ensinou, tu que falas assim? Não é verdade que ela te ensinou que teus anseios não seriam cumpridos, que teus desejos não seriam realizados, que teus apetites não seriam atentados, teus anelos não seriam satisfeitos? Isso ela te ensinou, tudo isso, o que não discutiremos, e também te ensinou a vir em auxílio das pessoas com palavras enganosas, arrebatando-lhes fé e confiança de seus corações, e a fazer isso sob o sagrado nome da seriedade. Por que ela te ensinou isso? Poderia ela haver-te ensinado algo diferente? Por exemplo, se duas crianças crescessem juntas e sempre compartilhassem as mesmas coisas de forma que quando uma fosse escolhida por distinção, a outra fosse também, quando uma fosse repreendida, a outra fosse também, quando uma fosse punida, a outra fosse também, elas poderiam ainda aprender coisas completamente diferentes. Uma poderia aprender a não ser orgulhosa toda vez que fosse escolhida por distinção, humilhando-se sob admoestação sempre que fosse repreendida, a deixar-se curar pelo sofrimento sempre que punida; a outra poderia aprender a ser arrogante sempre que fosse escolhida por distinção, indignada sempre que repreendida, a armazenar secreta raiva quando punida. Assim também contigo. Se amaste as pessoas, então a seriedade da vida deve haver-te ensinado a não ser estridente mas a permanecer silencioso, e quando estavas em sofrimento no mar e não vias terra, então ao menos a não envolveres os outros nisso; deve haver-te ensinado a sorrir ao menos enquanto crias que alguém procuraria em tua face uma explanação, um testemunho. Então a vida deve haver-te dado uma alegria sombria de ver outros obter sucesso onde não o obtiveste; o conforto de haveres contribuído com tua parte, abatendo em ti o grito de angústia que os perturbaria. Por que não aprendeste isso? Desde que não aprendeste isso, somos incapazes de prestar atenção às tuas palavras. Não te julgamos por duvidares, porque a dúvida é uma paixão astuciosa, e pode ser certamente difícil arrancar-se de suas redes. O que requeremos do cético é que esteja silencioso. Ele certamente percebeu que a dúvida não o tornou feliz — por que então confidenciar aos outros o que os fará igualmente infelizes? E o que ganha com essa comunicação? Perde-se a si mesmo e faz a outros infelizes. Perde-se a si mesmo, ao invés de encontrar descanso no silêncio ao preferir, quieto, suportar a dor solitária e sem fazer-se estridente, torna-se importante aos olhos das pessoas cortejando a honra e distinção que tantos cobiçam: duvidar, ou ao menos haver duvidado. Dúvida é uma paixão profunda e astuciosa, mas aquele cuja alma não é agarrada por ela tão intimamente a ponto de tornar-se calado está apenas simulando esta paixão; portanto o que diz não é apenas falso em si mesmo; mas sobretudo em seus lábios. Eis por que não lhe atentamos.

2 discursos edificantes, 1844

Impaciência pode assim tomar muitas formas. No começo mal se a reconhece — é tão gentil, tão indulgente, tão convidativa, tão estimulante, tão pensativa, tão simpática — e quando exaure todas as suas destrezas, finalmente se torna resmungona, rebelde, e quer explicar todas as coisas embora nunca tenha entendido uma única.

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