Viagem ao pavio da vela

VIAGEM AO PAVIO DA VELA assinala a retomada da atividade literária para o jornalista gaúcho Renato Modernell, longe das letras há sete anos. Vencedor do Jabuti de 1989, na categoria romance, com o livro Sonata da última cidade - considerado pelo renomado crítico Wilson Martins o maior romance de São Paulo jamais escrito -, Modernell passou os últimos anos se dedicando exclusivamente aos textos jornalísticos. "Por volta dos 40 anos," explica o autor, "quando minha filha nasceu, eu me encontrava diante de um impasse como escritor. A literatura era uma grande fonte de prazer, da porta de meu escritório para dentro e uma grande decepção da porta para fora." VIAGEM AO PAVIO DA VELA demonstra a intimidade de Modernell com a cultura italiana: "Tenho origem italiana e morei em Roma na juventude. Isso me facilita captar o espírito das coisas." O conhecimento da Itália, no entanto, não bastou para sustentar um projeto como essa viagem, com detalhes cotidianos da Idade Média. Modernell consumiu muito de seu tempo entre obras de referência, bibliotecas e Internet para montar a trama que envolve Marco Polo e Dante Alighieri. Como ponto de partida para VIAGEM AO PAVIO DA VELA está a obra fundadora da cultura italiana: a Divina comédia. Um documento histórico valioso, onde Dante cita importantes personalidades de seu tempo e lhes reserva o destino que julgava adequado: Inferno, Purgatório ou Paraíso. Mesmo depois das peripécias pelo oriente e do espantoso relato de suas experiências, Marco Polo não mereceu uma linha sequer na comédia do escritor de Florença. VIAGEM AO PAVIO DA VELA é uma brincadeira com o que poderia ter acontecido para explicar a omissão. Para isso, Modernell usa como protagonista um sujeito de origem obscura que passeia a esmo pela Veneza contemporânea. Um dia, ao atravessar uma das pontes da cidade, ele se vê em pleno século XIV, conhece Marco Polo e firma com ele um pacto: valendo-se de sua influência sobre os políticos locais, Marco providenciaria a volta de Dante à Florença, cidade de onde o poeta havia sido banido. Em troca, ele incluiria Marco num dos círculos de sua obra-prima e garantiria a fama do viajante na posteridade. O humor e a exuberância da prosa são outros pontos fortes de VIAGEM AO PAVIO DA VELA. O autor cria neologismos, palavras que não existem oficialmente, mas, ao mesmo tempo, afinadas com o espírito da língua.