Vozes plurais em um vermelho singular.
Do primeiro grito, na maternidade, já nos disciplinamos ao silêncio. Falar baixo, não contar para as amigas, afinal, mulheres em coletivo não se dão bem, sempre rivais...
Vozes Escarlate é sobre contar ao mundo, aos gritos, aos sussurros, cantando, ninando nossos filhos, com as palavras e com os traços. Junta sopranos, contraltos e mezzos. E, claro, tenorinas. E, ainda falaremos em LIBRAS. É só um início de muitos princípios.
As Marias e Clarices ainda choram em 2020, ainda sangram, ainda que escondam, mas não umas das outras. Do primeiro Sangue, Ana, Danielle, Juliana, Mandi, Neysi. Do segundo, outras tantas que enfim, unidas, seguem nessa primeira publicação que se alinha aos volumes de Quem dera o sangue fosse só o da menstruação, nos tons de vermelho, nas dores e na vida que pulsam nas veias. Plurais, vamos além e vamos em muitas. Singulares, cada uma traz um tom e um timbre, um sussurro íntimo ou um grito público.
Renata disse que os traços antes não dizia e os escondia, só mostrava o que fosse palavra. Mas, em nosso seio, tudo se torna dizer e poesia. Kauana dizia que nem escrevia, e olha ela aqui com seus poemas! Luci percebeu seu pulmão ser afetado pela COVID19. Respira solta entre as outras. As vozes nos ampliam, levam aonde nunca iríamos sozinhas. Falar baixo, dentre as Vozes Escarlate, é quase proibição. Faça a sua voz se ouvir, o quanto queira, seja nos versos ou nos traços, ou ao misturá-los.
Esse coro se afina hoje com 24 vozes de quatro Estados brasileiros, 48 escarlartes, em que 14 se harmonizam nos tons e 34 gritam em versos.
Há um único escarlate unindo essas vozes plurais. Até onde nossas vozes nos levam? Até onde encontrem eco.
lopse lazuli
(juliana lopes)
Literatura Brasileira / Poemas, poesias