Quando me caíram nas mãos os primeiros livros de Emil Cioran, publicados na Espanha pela Editora Taurus, resisti em acreditar que pudesse existir um contemporâneo, vivendo num bairro de Paris, tão ou mais lúcido e irreverente que F. Nietzsche. Minha resistência não estava fundamentada apenas na descrença natural de fanatismo que, com o tempo, os estudiosos e os leitores do ilustre filólogo alemão acabam sofrendo.
Até um dia antes de conhecer o livro 'Breviário de Decomposição' de Cioran, Nietzsche ocupava o primeiro lugar em minha mitologia acadêmica, anárquica e filosófica. Um dia depois, teve que dividir seu pedestal com o pensador romeno e, dois dias depois, passar ao canto dos visivelmente ofuscados.
Acabava de acontecer com Nietzsche o que anteriormente havia acontecido com meu querido Diógenes, com meu carrancudo Schopenhauer e outros... e o que, provavelmente, venha acontecer amanhã com o próprio Cioran, esse furacão sem limites que arranca tanto saber para, como num passe de magia, dizer do homem e do ser exatamente o que ele é.
Filosofia