Na obra, Saul Friedländer afirma como causa fundamental do exito operacional do genocídio judeu o "antissemitismo redentor"[...], essa síntese entre uma raiva assassina e uma meta 'idealista', compartilhada pelo líder nazista e o núcleo duro do partido", ressalvando, porém, que o "líder nazista não tomava suas decisões independentemente do partido e das organizações governamentais. Suas iniciativas[...] eram moldadas não apenas por sua visão de mundo, mas também pelo impacto de pressões internas, o peso das limitações burocráticas, a influência da opinião pública alemã como um todo e até as reações de governos estrangeiros e opiniões do exterior". Outros fatores, contudo, também concorreram para que a história tomasse o rumo que tomou e têm de ser levados em conta. Até que ponto essa obsessão ideológica era compartilhada pelo partido e pela população como um todo? Como as ruas alemãs receberam leis como as de Nurembergue? Como os judeus viram a ascensão do Partido Nacional-Socialista? Qual o papel desempenhado por pessoas comuns e personalidades diante do discurso de ódio e da escalada da violência racial e política, que incluía não apenas os judeus, como os ciganos, os homossexuais, os deficientes físicos e, a longo prazo, as "raças inferiores" submetidas à supremacia ariana? Saul Friedländer busca as respostas em A Alemanha Nazista e os Judeus, cuja abordagem não convencional lhe valeu o prêmio Pulitzer de 2008. A editora Perspectiva traz agora ao público brasileiro o primeiro dos dois volumes desta obra, que compõe um panorama detalhado, poderoso e consistente, que une o rigor acadêmico ao olhar de escritor, movido tanto pela força da memória de quem viveu os horrores da guerra, como pela disciplina do historiador, ao enfocar o tema com dignidade e distanciamento crítico. Na vasta literatura sobre o nazismo e o Holocausto, esta é sem dúvida uma obra de referência indispensável.