As narrativas reunidas nesse livro tratam do que não é social, do que não cai na rede. Do que não está exposto na vitrine de felicidade das redes sociais. A loucura não pode ser mapeada, a marginalidade só pode ser estigmatizada ou santificada. A dor, a alegria, o chip escondido em sua braguilha, nada disso interessa de verdade. Vai me dizer que você nunca digitou seu nome no Google para descobrir os resultados? Saber o que estão falando, comentando, encontrar uma homônimo, consultar o SERASA, a NASA, não? Admita. O Google é um regulador de existências, se não está lá, onde está? Aqui, na literatura, na não presença da Arte, de enganar, de escrever. Os autores aqui reunidos estão em processo de mapeamento, catalogação, buscam se tornar hashtag, meme. Os personagens aqui escondidos, não; esses não querem uma foto três por quatro em lugar nenhum, querem o silêncio da não digitalização, querem ouvir os pássaros e matar os pássaros sem denúncia ou coerção dos ativistas em seus sofás. Querem se vestir de preto para se camuflarem na escuridão daqueles que se perderam no limbo do off-line, um lugar de prazeres indescritíveis, e vozes. Muitas vozes. Não querem ser resgatados. Mas aceitam visitas, e só você, folheando – isso mesmo: folheando – essas páginas poderá conhecê-los, porque esse livro não será adicionado ao Google Books e nem exposto na livraria do Kindle. Com sorte, irá parar num sebo, enquanto seus autores têm suas frases compartilhadas pelo Universo.