A Aversão

A Aversão André Bandeira


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A Aversão (Viagens na ficção)





Os olhos dela, não mais matreiros, apenas infantis, um gemido torcendo-lhe nos lábios como se sorrisse, as orelhas pontiagudas despontando do cabelo, de cada lado, como as orelhinhas frágeis de um duende, tudo caía em espiral. O rapaz puxou as melenas para o lado, com a própria mão a pingar sangue e agarrou-lhe a outra mão muito fria, enquanto lhe procurava os olhos no caos das luzes, sem os encontrar.
Inesperadamente, o rapaz sentiu-se tranquilo, como se descansasse entre os lençóis, de madrugada, ao lado de alguém que não recordava bem o nome, nem o rosto, bem a insônia. Procurava enxergar, mas os olhos tinham ficado cegos de neblina e comichão, e as lágrimas esperavam no nevoeiro, rouquejando inutilmente no cais, como um enxurro de batelões, destroços e alcatrão, de quem já não espera caravelas.
Ela disse sorrindo, com esforço, antes de perder os sentidos: "Não custa tanto como ter um bebê... Sabes?". E ele ergueu-a, juntando-lhe ternamente a cabeça, como um anjo caído desertor, caído pela segunda vez. Mas para o Céu.

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Rachel.Venuto
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14/02/2020 21:27:05

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