Os textos que configuram as quatro partes do livro giram, todos, em torno do interdiscurso e da identidade [...], interdiscurso como fragmentos de múltiplos discursos que constituem a memória discursiva, [...] fragmentos esses que nos precedem e que recebemos como herança e que, por isso mesmo, sofrem modificações, transformações. De modo simplificado, poderíamos dizer que a memória, portanto, o interdiscurso são as inúmeras vozes, provenientes de textos, de experiências, enfim, do outro, que se entrelaçam numa rede em que os fios se mesclam e se entretecem. Essa rede (tecido, tessitura, texto, melhor dizendo, escritura) conforma e é conformada por valores, crenças, ideologias, culturas que permitem aos sujeitos ver o mundo de uma determinada maneira e não de outra, que lhes permitem ser, ao mesmo tempo, semelhantes e diferentes; essa rede se faz corpo no corpo do sujeito, (re)velando marcas indeléveis de sua singularidade. Constituída de representações imaginárias que se imprimem no e pelo espelho do olhar do outro, a identidade de cada um – professor, aluno, tradutor, falante de uma ou mais línguas – [...] se faz escrita, se faz texto, narrativa, ficção. São essas ficções de si, do outro e do outro de si que interessam e que se traz, em forma de excertos, nos capítulos desta obra, excertos extraídos de entrevistas, de relatos, de redações de alunos e de professores, de artigos publicados em jornais, revistas e periódicos especializados, posteriormente transcritos e analisados.[...] O que significa língua materna e estrangeira? É possível definir uma por oposição à outra, para todos e em todas as circunstâncias? Como se representam os falantes de mais de uma língua? Mas é possível ser falante de uma só língua? Como se vê o brasileiro na sua relação com o estrangeiro que admira e rejeita a um só tempo? Como se vê e é vista a mulher nos dias de hoje? Que discursos atravessam o seu dizer? Essas são algumas das questões que, interessam a professores, tradutores e a todos os que lidam com a linguagem e que se deparam com a complexidade que envolve os processos de ensino e aprendizagem, bem como a tarefa de tradutor, sempre e inevitavelmente, processos de compreensão e de tradução – impossível, graças ao equívoco e à opacidade da língua que deixa rastros, resíduos intraduzíveis que se fazem idioma, e, ao mesmo tempo, necessária à sobrevida do texto e do sujeito.
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