"Aplicar-me-ei a valorizar tudo o que a civilização medieval tem de primitivo e fazer luz sobre essas estruturas primitivas na organização da vida material, da vida biológica e da vida mental. Em tais sociedades, a dependência em relação à natureza e à fisiologia é grande. Os regimes alimentares e o estado sanitário -- quero dizer, o regime das doenças -- têm nelas mais peso que nas sociedades modernas. A interdependência entre o terreno natural e físico e as mentalidades, nestas sociedades, é mais estreita. Procurarei mostrar frequentemente, se não sempre, o eco dos condicionamentos externos das mentalidades e a determinação dos comportamentos pelas motivações mentais. Tal como os primitivos, os homens da Idade Média parecem-nos, muitas vezes, irracionais; mas, como já Claude Lévi-Strauss mostrou, o pensamento selvagem tem as suas razões: outras, mas muitas vezes mais estritas e mais compulsórias que a nossa flexível razão. Não separar o objecto do mental: eis uma exigência que me parece essencial para a compreensão da civilização medieval."
História / História Geral