Lucian é mais do que um sonhador que meramente explora uma realidade alternativa: ele sente a todo tempo que não se encaixa no mundo real e se refugia nos sonhos para sobreviver à própria época, aos costumes. A hipocrisia da sociedade, a eterna repetição de hábitos e valores, a maldade das pessoas, tudo isso torna o mundo real um lugar impossível de habitar, especialmente para alguém cuja sensibilidade extrapola os princípios e os anseios que se herdam e se consolidam geração após geração.
Lucian não sonha em trabalhar e ganhar dinheiro e casar e ter filhos e morrer. Para ele, escrever é mais importante do que tudo isso. Entretanto, nosso complexo protagonista não apenas despeja suas palavras no papel, mas quer trazê-las à vida, tal qual uma parturiente. Já ouviu falar de parto fácil? Certamente que não. E, assim, Lucien tem no processo criativo um sofrimento, uma dor, que pra é o maior obstáculo para sua felicidade, ora é a felicidade em si - e a única possível.
Texto original extraído do Manifesto da Escotilha NS de Novembro/Dezembro de 2020.
Ficção / Literatura Estrangeira