Sossauro, crocodilo alado, peixe-argh!, bridibiri do brejo, bocarrótamo e efemeróide são algumas das 33 espécies desconhecidas de seres vivos que o misterioso professor Tacus catalogou, construindo uma galeria de temperamentos os mais diversos. Os 31 animais e 2 plantas oriundos da imaginação do obstinado cientista estão reunidos em A criação das criaturas, que integra a série laranja (partir de 10 anos) da coleção Barco a Vapor de Edições SM. Um livro que se afasta da concepção “politicamente correta” da literatura infantil e juvenil para oferecer ao jovem leitor um espelho das virtudes e vícios humanos, tal qual os bestiários medievais.
Esse antropomorfismo muitas vezes surge de modo explícito, como na passagem em que o autor explica que os borororós são afogados pelos outros animais não “por algum instinto assassino atávico, mas tão-somente por humana irritação”. Misturando a descrição objetiva com a análise psicológica e moral de cada criatura, Tacus satiriza tanto a crença na perfeição da natureza criadora quanto a confiança excessiva na ciência.
Há animais com características que vão da chatice à fofura, do mau humor à gula. A legalopicalomanéia pirética, por exemplo, é “uma pulga, prima distante das pulgas tradicionais, só vindo visitá-las quando está em férias. Quando mordido por ela, você não sente coceira alguma, mas em compensação fica com uma vontade irresistível de jogar bolinha de gude”. Já o camaleôncio, “podendo se transformar em quantas pessaos quiser, acaba escolhendo a forma de um pacato suburbano chamado Leôncio, daí o nome científico”.
O pseudocientificismo das descrições e da subversão completa de referências, não apenas das ciências naturais, mas também da história e do próprio universo literário (como nas alusões ao dilúvio bíblico, em “O rouxinol persa”, ou ao mito da Medusa e à história de Chapeuzinho Vermelho em “O horrébulus”), dão uma irresistível graça a este passeio rápido pelo jardim das espécies. Nem mesmo a bibliografia final escapa do apurado senso de humor do autor.
Sobre o autor - Tacus é o pseudônimo de Dionisio Jacob, escritor paulistano nascido em 1951. Autor de vários romances e contos para jovens e adultos, Dionisio também escreveu roteiros para programas de televisão, como Castelo Rá-Tim-Bum, Cocoricó e Glub-Glub, da TV Cultura, e TV CRUJ, do SBT. Pela SM, publicou os seguintes títulos na coleção Barco a Vapor: O príncipe, a princesa, o dragão e o mágico (série azul), A fenda do tempo (série laranja) e A flauta mágica (série vermelha) – este último levado aos palcos em 2007, em forma de musical.