A Desilusão de Deus

A Desilusão de Deus Richard Dawkins


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A Desilusão de Deus





Richard Dawkings, eminente biólogo e divulgador científico, aclamado autor de obras como “O Relojoeiro Cego” e “O Gene Egoísta”, só para citar as mais conhecidas, quase consegue provar-nos com este seu último livro a não existência de Deus. E se digo quase, tal deve-se apenas a uma impossibilidade factual (no actual estado da ciência, segundo o autor).



O livro está escrito de uma forma que, sem pôr em causa o rigor científico, é de fácil leitura e assimilação e encontra-se prenhe de ideias polémicas e expostas de forma directa e provocatória, todas elas entroncando na principal – a não existência de Deus.



É óbvio que, mesmo a mim, que não sou nada religioso, tais ideias esbarram na carapaça da cultura entranhada em nós através da nossa cultura, enraizada na tradição judaico-cristã. Mas é também inegável que, mesmo de pé atrás, os argumentos apresentados por Richard Dawkins são, na sua grande maioria, convincentes, e têm o condão de nos fazer pensar.



Segundo o autor, escorado em argumentos científicos e filosóficos, é muito mais provável que Deus não exista do que o contrário; Deus não nos faz falta para sermos felizes nem para nos confortar pois existem outras formas de o fazer; a religião tem-nos trazido, ao longo da História muito mais mal que bem, com os inúmeros confrontos sanguinolentos que tem originado ao longo dos tempos, apenas comparáveis com outra “fé”, o patriotismo; podemos continuar a ter uma moral e uma ética sem o auxílio da religião.



Por aqui se pode ver o tipo de teses controversas que atravessam todo o livro, e que Dawkins defende através da confrontação com os argumentos de sentido oposto que têm sido expendidos por teólogos e outros religiosos.



Richard Dawkins, sendo um Darwinista convicto, baseia toda a sua argumentação nesta teoria, aplicando-a para explicar a emergência da religião, em todos os povos, em termos de um subproduto das acções de selecção natural.



Assim, a religião seria um subproduto derivado da irracionalidade que os humanos têm de ter genetizada no seu cérebro para a sua sobrevivência, designadamente para a paixão, essa outra irracionalidade, mas que nos faz ficar com o mesmo parceiro para garantir o normal desenvolvimento da prole. Estranho? Confiram a explicação pormenorizada no livro.



A própria cultura (através dos memes) e até, pasme-se, o universo (ou multiverso, como Dawkings especula, com base nas ideias expostas por Lee Smolin – The Life of the Cosmos, Londres, Weidenfeld & Nicolson, 1997, mais um para ler -) obedecerá à teoria Darwiniana da selecção.



O que é que isto tem a ver com a Web 2.0? Bem, de uma forma arrevezada, a ligação tem a ver com os tais memes que referi atrás. Memes é uma palavra muito em voga no mundo da Web 2.0, a Web participativa, e refere-se às ideias que, em luta com outras, têm as condições para sobreviver e tornar-se parte da nossa cultura, tal qual os genes. E é bom que sejamos todos nós a decidir quais são os memes que sobreviverão no futuro. Até porque, como diria o outro, todas as coisas da vida são demasiadamente importantes para serem deixadas aos especialistas. É isso que a Web 2.0, com a sua cultura da participação nos pode dar. E não será pouco.



E, finalmente, o que tem tudo isto a ver com a educação?



Não sei, mas ao ler o livro vieram-me várias vezes à cabeça outros patriarcas da fé, os pedagogos que dominam o nosso sistema de ensino (não as nossas salas e aula, entenda-se), e que também manifestam uma fé irracional em coisas como: o processo ensino/aprendizagem tem de ser centrado no aluno; a escola deve abrir-se mais à participação dos pais; os professores são uns pulhas; a avaliação dos professores vai contribuir alguma coisa para a melhoria do ensino – ideia que de tão batida ser tornou um dogma, levando mesmo a que quem ache que tal avaliação será sempre injusta, perturbadora, a ter vergonha de dizer que é contra toda e qualquer avaliação dos professores, a não ser a que for baseada em exames dos alunos; e mais uma série de outras ideias peregrinas de que me ocuparei a breve trecho com base no livro de Gabriel Mithá Ribeiro – “A lógica dos Burros”.



Em resumo, trata-se de uma obra polémica, escrita, propositadamente, em tom politicamente incorrecto, que o autor explica pela necessidade de despertar consciências, mas com argumentação arguta e cientificamente rigorosa, onde ela é possível.



No fim, ficamos um pouco “abananados”, inquietos, por as nossas consciências terem sido agitadas. Algumas teses custam-nos mais a entrar do que outras mas, como o autor afirma, estará sempre disposto a discutir e a mudar de opinião, se houver evidências em contrário, o que não acontece com a outra parte.



Vale a leitura.



A desilusão de Deus é um livro inteligente, compassivo e verdadeiro como gelo, como o fogo. Se este livro não mudar o mundo, estamos todos lixados.



Penn & Teller, apresentadores de televisão



Oh, depois de toda a vida nos dizerem que é uma virtude sermos cheios de fé, espírito e superstição, é tão reconfortante ler em vez disso um sonoro toque de trombeta da verdade. Dá a impressão de virmos á superfície para recuperar o fôlego.



Matt Ridley, autor de Genoma e Francis Crick



Dawkins dá às compaixões e emoções humanas o seu devido valor, que é uma das coisas que confere força às suas críticas da religião. Hoje em dia, muitos líderes religiosos são homens que, o que é óbvio para qualquer pessoa, excepto para os seus perturbados seguidores, estão dospostos a sancionar a crueldade perversa ao serviço da fé. Dawkins atinge-os com todo o poder que a razão pode exercer, destruindo as suas absurdas tentativas de provar a existência de Deus ou as suas presunçosas reivindicações de que a religião é a única base da moralidade, ou que os seus livros sagrados são literalmente verdadeiros.



Philip Pullman, autor da trilogia Mundos Paralelos



Richard Dawkins é o principal profeta dos nossos tempos. Através da sua exploração da evolução da vida baseada nos genes, o seu trabalho teve um profundo efeito em muito do nosso pensamento colectivo, e a Desilusão de Deus continua a sua tradição provocadora do pensamento.



J. Craig Venter, decifrador do genoma humano



Richard Dawkins nasceu em Nairobi, capital do Quénia, em 1941. Estudou Zoologia em Oxford, tendo-se doutorado sob a direcção do biólogo Nikolaas Tinbergen, Prémio Nobel em 1973 pelos seus estudos em Etologia. Foi professor de Zoologia na Universidade da Califórnia, em Berkeley. Presentemente, é catedrático da Universidade de Oxford. Para lá de cientista e académico, tornou-se conhecido como um dos intelectuais mais influentes da actualidade. Defensor intransigente da evolução segundo a teoria de Darwin, é um divulgador ágil da ciência e do pensamento científico. Intelectual polémico, defende fervorosa e militantemente o “orgulho de ser ateu”. As religiões, que tiveram a sua génese na evolução, por causa de alguma vantagem selectiva na moralidade, devem agora, com a explicação científica, ser metidas no caixote das velharias.



Deus não existe e as religiões são perniciosas e causadoras da maior parte dos males do mundo? Provar que a resposta só pode ser afirmativa é o objectivo desta obra, que ocupou o top de vendas na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos.



Orgulhosamente ateu, o autor penas que a maioria dos cientistas também o foram e são, dando o ateísmo um contributo fundamental para uma sociedade mais feliz, porque livre. Os argumentos filosófico-religiosos a favor da existência de Deus são de extrema debilidade.



Darwinisra convicto, vê na selecção natural a chave de explicação da evolução, acabando com a ilusão de um Deus pessoal e de um “Desíginio inteligente”.



Obra retumbantemente polémica, acusada de superficialidade unilateral e fundamentalismo cientificista, tem a pretensão de tornar ateus todos os seus leitores religiosos. Optimismo presumido e ingénuo, obrigará, de qualquer modo, os crentes a mais lucidez.



Anselmo Borges



Instituo de Estudos Filosóficos



Universidade de Coimbra





"A Desilusão de Deus" de Richard Dawkins não é apenas uma brilhante obra de divulgação científica, a obra de Dawkins é sobretudo uma obra oportuna do ponto de vista político. Numa época, em que o fundamentalismo religioso voltou a ganhar terreno, em particular através da progressão do islamismo no Médio Oriente e da ascensão ao poder nos EUA de uma das variantes mais fanáticas de protestantismo evangélico, Dawkins interpela-nos com toda a oportunidade sobre os perigos deste evidente retrocesso civilizacional.



Dawkins actualiza a reflexão científica sobre a existência de Deus através dos capítulos "A Hipótese da Existência de Deus" e "Argumentos para a Existência de Deus". A tendência humana para acreditar em entidades superiores ou espirituais é analisada no capítulo "Raízes da Religião" de uma forma muito interessante, do ponto de vista evolutivo da nossa espécie, tal como já o tinha feito Desmond Morris, embora as explicações não sejam totalmente coincidentes entre os dois autores. Ao longo do capítulo "Raízes da Moral", Dawkins desmonta a ideia que a moral só pode existir associada à religião. Através de múltiplos exemplos Dawkins recorda-nos que há mais de dois mil anos que as maiores atrocidades da nossa história têm sido perpetradas em nome de uma miríade de deuses. Neste capítulo Dawkins analisa o papel dos regimes laicos na pacificação da sociedade, sem deixar de caracterizar devidamente o estalinismo e o nazismo. Estaline como produto de um seminário católico e a espiritualidade maniqueísta de Hitler e a sua cumplicidade com o Vaticano.

A intolerância natural da religião é analisada por Dawkins, referindo-se este em particular à hostilidade à homossexualidade, ao modo de vida das sociedades mais abertas, à ciência e às religiões minoritárias. Apesar de Dawkins ser um aberto crítico das facções mais ortodoxas do judaísmo (tal como é crítico da Opus Dei, do catolicismo evangélico fundamentalista e do islamismo radical), Dawkins relembra-nos a história milenar da perseguição ao povo judeu, "os assassinos de Deus", como eram caracterizados.



Na minha opinião o melhor capítulo da obra é o capítulo dedicado à dificuldade que o cidadão comum tem em compreender os problemas cuja escala nos ultrapassa do ponto de vista espacial e do ponto de vista temporal. O muito grande ou muito pequeno, o Universo ou um quark não são conceitos intuitivos tendo em conta as nossas dimensões naturais e o espaço que cabe no nosso campo de visão. Os fenómenos naturais que duram alguns nanosegundos ou os milhares de milhões anos da vida de uma estrela dificilmente são assimilados pela maior parte das pessoas. Por exemplo, parte da dificuldade em compreender o fenómeno do aquecimento global tem origem no conflito entre a escala temporal facilmente intuitiva associada às recentes medições e a menos intuitiva escala temporal do ciclos de glaciações terrestres. A incompreensão da base científica associada a fenómenos cuja escala nos transcende são uma fonte abundante de espiritualismo e de sentimentos religiosos.



Outras passagens interessantes são o desmontar da infantilidade do Desenho Inteligente em poucas páginas, a análise ao negacionismo militante contra o darwinismo, a ciência moderna e o aquecimento global, bem como variadíssimas passagens deliciosas da bíblia onde se relatam genocídios, homicídios e abuso de mulheres e crianças em nome de Deus. Dawkins descreve ainda os evangelhos mais folclóricos, os que foram deixados de lado pelos últimos compiladores das escrituras, que descrevem Jesus Cristo em criança abusando dos seus poderes divinos como se fosse um mágico, ora transformando os seus colegas em cabras ora ajudando o seu pai nos trabalhos de carpintaria aumentando miraculosamente as dimensões das peças de madeira.




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