A Gangue do Pensamento

Um professor de Filosofia, o inglês e alcoólatra Eddie Caixão, e um ex-presidiário — o francês Hubert, com perna mecânica, olho de vidro e mão postiça — abandonam suas carreiras profissionais fracassadas para formar uma excepcionalmente bem-sucedida dupla de assaltantes. Enquanto o acadêmico descobre seu talento para o crime, o criminoso revela uma propensão para refletir sobre questões filosóficas. Juntos os dois esvaziam os cofres dos bancos do sul da França numa corrida vertiginosa, motivada menos pelo amor ao dinheiro do que pelo propósito de desafiar as convenções da sociedade. A gangue do pensamento logo chama a atenção por seus métodos nada ortodoxos: afinal, não é qualquer quadrilha que pratica seus assaltos usando máscaras de Nietzsche.

Apesar do enredo movimentado, a maior parte da ação do romance de Tibor Fischer se desenvolve no interior do cérebro do seu personagem principal, que enxerga o mundo através de uma névoa composta de muito álcool e algum ceticismo filosófico. Careca aos 30 anos, recém-demitido do posto de professor em Cambridge, Eddie Caixão manifesta uma atração especial pela boa comida, pensadores gregos e palavras que começam com a letra Z. Quem mais, ao despertar de mais um porre, com a cara no chão e completamente nu, embarcaria numa digressão filosófica ao contemplar a bota de um policial a poucos centímetros do próprio nariz?

A filosofia, aliás, é mais do que um tempero usado discretamente para colorir a personalidade de um personagem do romance. Um dos aspectos que chamou a atenção da crítica internacional foi a habilidade com que Fischer intercalou generosas doses de filosofia entre as peripécias do seu anti-herói.

Os ingredientes — a violência e o ritmo de um road-movie — podem sugerir um filme à moda de Tarantino, mas a grande aventura proposta ao leitor de A gangue do pensamento é seguir os delírios verbais e as reviravoltas mentais que pontuam a narrativa — sempre na primeira pessoa — desse excêntrico professor que surge como um dos grandes personagens cômicos da literatura dos anos 90.