O cenário é apenas um quarto de hospital. Mas tão extremas são as situações
vividas pelos personagens, que nos vemos transportados para as mais diversas
paisagens onde cada um imagina localizar o acontecimento que, em sua misteriosa
banalidade, teria definido um destino. Ronaldo Lima Lins nos desvenda assim a
identidade do personagem central - "o professor" - tanto através da sua própria busca
quanto daquilo que ele descobre naqueles que com ele compartem a experiência
radical do sofrimento, do abandono, da insinuante perversidade do destino sob a forma
de ferimentos a marcar os corpos e os corações. Patéticos, mesmo os mais ingênuos
vão ganhando outra dimensão, apreendida no sentimento iniludível da solidão.
Através dos outros, o professor se reconhece. Na experiência da dor, na revolta, na
resignação. Na pungente procura de amor e nos artifícios com que cada um tenta
assimilar uma derrota para sempre impressa em seu passado. Nesse reconhecimento,
o professor identifica sua própria história.
Então sentimos, na leitura destas páginas, como o cenário dramático de um quarto de
hospital fornece simplesmente o microcosmo necessário para que a memória recolha
de um passado, sempre transformado, como de "um poço sem fundo", as precárias
explicações para o profundo mistério de existir. (Eder Sader)