Se o leitor se intrigou com o título deste belo estudo e reagiu pensando “Mas literatura é sempre algo a ser visto de perto!”, seja bem-vindo: é exatamente este contraste o ponto de partida para apreciar e fruir adequadamente as teses de Franco Moretti sobre estudar literatura hoje.
Autor de alguns trabalhos de grande poder descritivo, muitos dos quais traduzidos no Brasil, Franco Moretti é talvez o mais original formulador das aproximações entre estudos de literatura e geografia. Estudioso do romance, forma narrativa moderna que domina o cenário das letras há mais de dois séculos, ele procede a levantamentos documentais da geografia presente no romance e dá a ver quão estruturante é o papel do espaço nos relatos ficcionais, para muito além do aspecto meramente paisagístico que habitualmente se concebe.
Utopia? Sim, mas ao alcance do debate, senão mesmo da escrita, como está provando sua obra. No livro que o leitor tem agora em mãos, Moretti oferece três modelos abstratos para a história da literatura. Abstratos, quer dizer: que lidam com a literatura como um objeto passível de uma perspectiva científica aparentada das ciências da natureza. Ele mesmo explica que seu marxismo tem pouco a ver com as sutilezas filosofantes das tradições francesa e alemã e muito em comum com a tradição empirista inglesa (Moretti, italiano, especializou-se em romance inglês, justamente).
Gráficos, mapas e árvores, então, são as figuras abstratas que Moretti mobiliza, aqui, para pensar (de longe, de cima, panoramicamente) sobre literatura, e o leitor vai logo apreciar o enorme rendimento que ele obtém, ao lado do não menos interessante ritmo de sua argumentação, marcante em mais de um sentido, que ajuda a arejar a conversa sobre história da literatura, aqui e em toda parte por onde já circula.