Uma filósofa francesa e um psicanalista indiano resolvem estudar uma louca internada em Paris, no serviço de Pierre Janet, e um grande místico indiano no gozo da sua liberdade. Uma estranha idéia e um resultado surpreendente.
Madeleine e Ramakrishna são como "gêmeos espirituais" criados em ambientes totalmente diferentes. Visões, jejuns, fomes devoradoras, paradas respiratórias intermináveis, longas imobilidades, resistência à dor, êxtases. Eles apresentam os mesmos sintomas, mas, no séc. 19, a França e a Índia não reservam aos místicos o mesmo destino. Enquanto Madeleine é submetida à tirania da razão, enjaulada e cercada de cuidados até que seu misticismo seja aniquilado, Ramakrishna, vivendo em uma cultura onde a razão importa pouco, encontra o reconhecimento devido a um misticismo resplandecente.
Madeleine apresenta perturbações mentais que se assemelham aos êxtases religiosos descritos por Teresa d'Ávila, considerada santa pela igreja e dignificada pela Psicanálise, e Ramakrishna confessa ter atravessado episódios psicóticos e os distingue de seus estados místicos. Quais as fronteiras entre santidade e loucura? Como tornam-se os místicos igualmente mestres da sua loucura e da sua razão, ao passo que o esquizofrênico permanece escravizado? Quais as fronteiras entre o corpo e o espírito? Quem obedece a quem e como?
Ao responder estas questões, Catherine Clément e Sudhir Kakar apresentam articulações entre psicanálise, cultura, sociedade e religião; mostram as ambigüidades da loucura e da santidade; as parcialidades próprias a uma filosofia ocidental e a uma psicanálise hindu e recuperam Pierre Janet, aluno de Charcot e um dos mestres da psiquiatria francesa e firme adversário da psicanálise.
Um livro que coloca questões que fazem trabalhar o pensamento.