A história da escravidão no Brasil começa na África - e é inseparável da história africana. Foi desta perspectiva que se escreveu este livro ambicioso e singular no qual o muralista atento à amplidão da paisagem não esqueceu a pequenina concha sobre a areia. Pela riqueza de informações cada qual de seus capítulos poderia ser desenvolvido num volume se Alberto da Costa e Silva não tivesse aspirado a entregar ao leitor comum sem lhe subtrair amplidão e movimento uma síntese do que se passou nas várias Áfricas - na que se volta pelo Saara para o Mediterrâneo na que flui para o Atlântico na que se inclina para o Índico e na que se divide entre os três mares ou a todos ignora - durante os primeiros duzentos anos da expansão oceânica europeia. Como o escravo é a personagem onipresente o livro principia com um relato rápido sobre o negro como trabalhador forçado no Egito faraônico Grécia Império Romano Índia China e Europa medieval sobre os vários tipos de escravidão prevalecentes na África e a forte expansão que experimentou o cativeiro de africanos nas terras regidas pelo Islame antes de centrar a atenção do leitor no tráfico promovido pelos cristãos para as Américas e no impacto que esse tráfico teve sobre as diferentes sociedades africanas. Em suas páginas conta-se como em cada parte da África se trabalhava a terra se cuidava dos rebanhos se fundia o ferro se fiava se tecia e se comerciava se adoravam os deuses se organizavam os governos se acolhiam os estrangeiros se armavam os exércitos e se usavam os escravos. Sob esse aspecto A manilha e o libambo continua A enxada e a lança e tal qual sucedeu a este último do mesmo autor e também publicado pela Editora Nova Fronteira já surge como um livro de leitura obrigatória e destinado a tornar-se um clássico.
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