“ A favela, como a selva, é um mundo violento e cruel, onde a sobrevivência depende de habilidades diferentes das necessárias em outros grupos sociais. ” Esta passagem reflete a tônica do romance A MENINA DA FAVELA: uma narrativa crua, sem retoques, que dá a medida da igual crueza da vida retratada na história.
A saga de Martinha – que vai desde a miséria na favela, passando por outras agruras a ela relacionadas, como o alcoolismo, a violência, o abuso sexual – traduz a humilhante via-crúcis de tantas meninas Brasil afora. Uma menina que aprende a ser valer da malandragem como estratégia de sobrevivência, e que depois consegue escapar desse ciclo, resgatando sua identidade, mesclando obstinação, doçura e alegria de viver.
Heliópolis pode ser qualquer favela brasileira. Martinha pode ser qualquer menina, dentre tantas as vítimas dessa estrutura perversa. Muitas sofrem como ela. A narrativa mostra que há a possibilidade de reescrever esse destino aparentemente traçado e imutável. Basta sonhar e lutar.
Tatiane Alves
Escritora e Doutora em Literatura