Após uma profunda crise espiritual, tornaram-se comuns as afirmações de que, a partir desse momento, Lev Tolstói, o autor de grandes obras-primas como Guerra e paz e Anna Kariênina, havia traído o próprio talento literário e se tornado um pregador fanático de sua doutrina (o “tolstoísmo”) – um escritor-moralista. No entanto, em nenhum momento Tolstói deixou de ser um grande escritor. E talvez a prova disso sejam as novelas A morte de Iván Ilitch (1886) e Senhor e servo (1895), com abordagem das principais “questões malditas” e eternas da existência humana, ambas escritas já na época em que Tolstói passou a negar a importância de ser escritor de ficção.
Já os outros dois contos presentes neste volume, escritos em 1872, fazem parte das obras que Tolstói incluiria em seus Livros Russos de Leitura, dirigidos aos leitores populares. Trata-se de Deus vê a verdade, mas custa a revelar e O prisioneiro do Cáucaso. Marcadas pela simplicidade poética da linguagem, estas obras revelam uma das facetas mais preciosas do talento literário do escritor. A simplicidade severa da forma artística, segundo Tolstói, deveria refletir aqui a Verdade, que é, no final das contas, simples e transparece onde existe amor ao próximo.
As quatro obras são novamente reunidas na Coleção Clássicos do selo Amarilys. A morte de Ivan Ilitch e outras histórias teve a célebre tradução de Tatiana Belinky revisada e atualizada. A nova edição conta com prefácio de Elena Vássina, pesquisadora de literatura russa e professora da USP, e ilustrações do artista gráfico Hélio de Almeida.
Ficção / Literatura Estrangeira