A grande romancista de O VÉU de Verônica - Prêmio Nobel de Literatura - dá-nos neste pequeno volume. uma autêntica obra prima. Não cremos possa haver, no gênero, livro de igual densidade e com tamanho poder de sedução. Em certo passo, a autora cita a Ruth Schauman na Carta de Quélion a Cleto : As verdadeiras mulheres são silenciosas e desejam o silêncio, Mostrem-me uma mulher que escreva a propósito do que lhe diz respeito. Cala o que lhe diz respeito, porque o silêncio é aqui nome da vida, ao passo que a palavra discursiva é o nome da morte. O que é secreto é fecundo: o que é divulgado é raso".Teria Gertrud rompido o silêncio ? Não; não é de si que ela fala. Nem foi usando a lógica e seus conceitos abstratos - que disvirtuam o pensamento vivo - que a grande escritora compôs esta excelente obra. Preferiu a linguagem dos simbolos. Dois motivos essenciais da feminilidade. ou do mistério feminino; percorrem todo o livro: o motivo da cooperação e do véu. Maria é a Co-Redentora. A auréola da glória do Espírito Santo, do amor incriado, é uma coroa porém é o derradeiro véu, o véu eterno posto sôbre a cabeça da Virgo-Mater ! A mulher age em todas as circunstâncias, à maneira da nubente, sob o véu.Ainda, ou talvez sobretudo, quando carregada de missões excepcionais. Catarina de Siena, lembra a autora, recebera a incumbência de levar o Papa de Avinhão para Roma: está ausente, velada, quando o Pontifice transpõe a entrada da cidade eterna. Joana D'Arc recebeu o estandarte de batalhas e conduziu o seu povo à libertação. Seu véu foram as labaredas da fogueira. A Mulher no tempo, é o tema que se segue. Misteriosa a função da mulher no tempo. De certo, cabe-lhe representar a metade da existência e do destino humano. Todavia,bem se sabe que não é a mulher, e sim o homem e suas obras que modelam a face da história. Ainda uma vez o motivo de cooperação se oculta sob o véu. E essa metade de homem e de seu destino é em símbolos que vai se realizar. O símbolo por excelência é a esposa. " Deus colocou irrevocavelmente, a feminilidade como uma das mestades do ser". Por isso se a vida feminina se apresenta através de três tipos imutáveis, a virgem, a espôsa , a mãe, tais tipos não se excluem uns aos outros. Apenas a espôsa que não é só a companheira da vida do homem mas também a companheira do seu espírito, se situa entre a virgem e a mãe, como entre a pessoa e a raça, "e transpõe já a linha que as separa. A Virgem salvaguarda para o homem a pessoa, o valor supremo e solitário da cultura; a espôsa assegura ao homem a colaboração duma metade do mundo. No domínio da natureza ela libera o homem da sua solitude; no domínio do espírito, ela o libera dos limites que lhe impõe a pessoa. È a presença do mistério feminino que torna intelegível a parte do anonimato incluída em toda grande obra. E se "a mulher fora do tempo" realiza-se na maternidade. É a ultima parte do livro, talvez a mais bela de todas, de certo irresumível. Ser mãe não pode ser nunca a missão particular das mulheres de uma época; é pura e simplesmente a missão da mulher. Virgem, mantem-se isolada em face do tempo; com o homem que se mantem no tempo; mãe ela traspassa o tempo. " A mãe é a imagem do infinito terrestre. Os milênios por sobre suas alegrias e suas dores sem deixar traços; a mãe é sempre a mesma. A mãe é a plenitude imensal, o silêncio, a imutabilidade da vida na comcepção, na gestação e no parto. Assim é o livro de Gertrud Von Le Fort, de uma beleza literária de uma profundidade de pensamento, de uma riqueza de sugestões, que fazem honra ao nosso tempo.