Cada um tinha um jeito de fazer o tempo passar mais depressa. Dirce ficava seis horas espremida em uma das cinco cabines do pedágio no quilômetro 54. A rodovia não era das mais movimentadas. Às vezes, havia intervalos de meia hora entre um veículo e outro. Valia tudo para se distrair: walkman, romances bem melosos, palavras-cruzadas...
A moça preferia criar passatempos. Quando o carro se aproximava, lá longe, ela tentava adivinhar quantas pessoas havia dentro. Em dias de pouco movimento, ficava empilhando as moedinhas de troco. Apesar da reclamação dos motoristas, torcia para nunca arredondarem o preço do pedágio. Essa era a rotina dela.
A vida mudou mesmo no dia em que foi escalada para ficar na cabine que atendia os veículos mais pesados. Quando o primeiro caminhão passou, ela reparou na frase escrita na parte de trás: "Nas curvas do teu corpo, capotei meu coração".
Dirce achou aquilo engraçadinho. Deu um sorriso e ficou repetindo mentalmente a frase. Veio outro caminhão com outra frase. Mais um e mais um pára-choque. Ao chegar em casa, porém, só conseguiu se lembrar de duas ou três. Foi assim que teve a idéia de levar um caderno de brochura para a cabine do pedágio no dia seguinte.Só que aquilo virou mania e ela começou a falar somente aquelas rimas
Ficção / Infantil