A musa diluída

A musa diluída Henrique Rodrigues


Compartilhe


A musa diluída





"A musa diluiu-se, livre e rarefeita, / Agora pode ser bebida em tudo". Com esses versos, que estão na parte VII do primeiro — e comparativamente longo — poema do presente livro, Henrique Rodrigues faz sua profissão de fé e se situa esteticamente. Poucos poetas de sua geração (a geração novíssima) podem evocar a musa com tanta propriedade quanto Henrique. Acompanho sua trajetória há bastante tempo, desde quando ele freqüentava as aulas de graduação na universidade em que leciono, e sou testemunha da seriedade com que ele encara seu trabalho de criação, assim como da intensidade com que se desenrolou seu processo de amadurecimento artístico e técnico. Refiro-me à técnica do verso clássico, campo em que Henrique Rodrigues já é mestre e modelo. O presente livro representa pois o coroamento de uma longa e exemplar formação de poeta.



Henrique Rodrigues quer a musa clássica mas sabe muito bem que ela está diluída, dissolvida na vida e na aparente banalidade das coisas comuns.



Persegui-la hoje, canta o poeta, é buscá-la "pelos bares, pelos rios, pelas poças", "nas garrafas que são como moças recém-chegadas", "na sujeira das coisas sem nexo ou beleza", "no sexo, nos sexos e nos oceanos". Assim, se os versos aqui reunidos propõem como referência um conceito de alta poesia, por outro lado subjaz a eles todo um capital de ironia, ceticismo e miscelânea pós-moderna que o leitor criticamente antenado porventura exigirá.



É no balanço entre o clássico e o pós-moderno, entre o anacrônico e a busca do eterno no presente, que se tece o enredo fortemente auto-reflexivo desta poética. Auto-reflexiva no sentido de lúcida, consciente de si.



Não posso no espaço de uma sucinta apresentação indicar a grande variedade de remissões a poetas e poemas do passado nos textos de Henrique Rodrigues, assim como a sofisticação, inclusive filosófica, com que os temas vão se bifurcando e retornando, estabelecendo diálogos e encaixes entre poemas situados em pontos diferentes do livro. Henrique Rodrigues é um poeta realizado, e este é um livro de muito boa qualidade, contendo poemas excelentes, dentro de uma vertente poética forte hoje em dia no Brasil, aquela que deliberadamente se afasta da expressão chula ou dessimbolizada, em busca novamente de uma linguagem mais elaborada, como forma de potencialização das riquezas de nossa língua culta.



Italo Moriconi


Edições (1)

ver mais
A musa diluída

Similares

(1) ver mais
Fábulas cabulosas e outras histórias subversivas

Resenhas para A musa diluída (5)

ver mais
Morremos rio, como todas as pessoas.
on 16/1/24


Henrique Rodrigues é um autor excelente, estudou na mesma escola que eu e já tive a honra de palestrar ao seu lado para alunos do PEJA, no CIEP Carlos Drummond de Andrade (RJ). Recebi A musa diluída de suas próprias mãos quando ainda era criança, e confesso estar encantado com suas habilidades extremamente profissionais, como escritor e poeta. O livro é de muita qualidade e merece ser lido inúmeras vezes, pois são poemas capazes de nos fazer respirar fundo e, depois, expirar calma e le... leia mais

Estatísticas

Desejam1
Trocam1
Avaliações 3.8 / 12
5
ranking 42
42%
4
ranking 8
8%
3
ranking 42
42%
2
ranking 8
8%
1
ranking 0
0%

40%

60%

Henrique Rodrigues
cadastrou em:
15/03/2009 16:04:36

Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR