Este livro é por definição um romance, ainda que se equilibre entre a ficção e a realidade. Segue, na medida em que é possível descrever situações vividas há quase dois séculos, uma trilha calcada nos fatos e no que hoje definimos como história. Ao concebê-lo, pois, obriguei-me a obedecer a um roteiro pré-estabelecido, domesticando a imaginação quando esta ameaçava alçar vôos desmedidos, desvinculando-se dos acontecimentos, grosso modo, decorridos a partir de 1819 – ano em que se deu o quase implausível, mesmo para os padrões romanescos, o deslocamento a um só tempo, de mais de dois mil indivíduos da Europa central, para o interior fluminense. Os personagens, portanto, ainda que em grande parte fictícios, existiram aos retalhos, em meio a tantos imigrantes.
Conservei na narrativa, evidentemente, os tipos históricos, estes inseridos, à maior parte das vezes, em circunstâncias referidas pelos próprios ou por testemunhas da época. Naturalmente que tal rigor não se aplica a maior parte dos diálogos travados por alguns (salvo aqueles contidos em documentos), nos recônditos de escritórios ou quartos de hotel. Estes terão sido certamente criados pela imaginação do ficcionista, ainda que uma vez mais, contextualizados pelas ocorrências descritas em mais de uma centena de fontes primárias.
Impossível será não descrever com detalhes deixados pelo abade Joye, Joseph Hecht e outros imigrantes, em suas cartas e diários, os episódios cruciais do evento, desde a saída do porto de Estavayer-le-Lac, a semeadura de tantos corpos pelo trajeto oceânico e finalmente, a instalação na colônia que daria origem a Nova Friburgo.
Utilizei, ainda, como homenagem aos verdadeiros protagonistas do evento, o nome de alguns para batizar meus personagens esperando que a memória dos mesmos perdoe ao ficcionista, algum excesso.
De qualquer forma, em última instância, este romance, começou a ser escrito há muito tempo, talvez mesmo no dia, em que meu distante ancestral, despertou com a idéia de atravessar o oceano.