O discurso é inevitável. O discurso é um labirinto. Mas não um daqueles divertidos, borgianos, como aquela floresta de dementes feita de uma árvore só eternamente reproduzida entre infinitos espelhos, que, por pior que seja, é ainda algo exterior a nós, o que dá sempre esperanças de que possamos controlá-lo, cortando a árvore ou partindo os espelhos, porque esse é um tipo de labirinto em que a gente caminha, pra lá e pra cá, que a gente habita como o nosso mundo. Já o discurso, em troca, é um tipo de labirinto que habita a gente - que mora em nós, e que, no fundo, se identifica conosco, com a nossa interioridade: o mundo contém algumas coisas, mas a gente é que contém a totalidade delas.
Não-ficção