A Psicanálise na Ditadura Civil-Militar Brasileira (1964-1985): história, clínica e  política

A Psicanálise na Ditadura Civil-Militar Brasileira (1964-1985): história, clínica e política

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A Psicanálise na Ditadura Civil-Militar Brasileira (1964-1985): história, clínica e política





O objetivo do presente trabalho é reconstituir a história da psicanálise no Brasil durante
o período ditatorial entre 1964 e 1985. Para tal, foram construídos expedientes
metodológicos inspirados na obra de Bourdieu, Wright Mills e na abordagem
prosopográfica. A partir deles são organizados dois pares de eixos, as rotas filiatórias e
as rotas migratórias, que por sua vez sistematizaram a diferenciação entre iniciativas
pontuais de psicanalistas e movimentos psicanalíticos, visando compreender como se
portaram os movimentos psicanalíticos nacionais em termos de autonomia relativa em
relação às injunções do Estado ditatorial. A grande maioria das fontes primárias
consultadas é oriunda de três plataformas de arquivos distintas, o portal Memórias
Reveladas, o Arquivo Público do Estado de São Paulo e o portal Hemeroteca. Pela
qualidade dos arquivos, foi proposto ainda um entendimento geral acerca da política do
segredo em história da psicanálise. Parte-se do pressuposto do autoritarismo de crise no
golpe militar de 1964, configurando a aliança de ocasião com setores liberais da sociedade
civil. Os movimentos oficiais respondem pela via da criação do que foi denominado de
mito nacional do pedigree, presente enquanto modalidade historiográfica singular e
enquanto fundação de recursos editoriais de estabilização de conceitos e práticas. Com o
endurecimento do regime militar nos últimos anos da década de 1960, há uma
redistribuição do jogo de forças, cuja resposta intelectual das resistências à ditadura
ligadas à psicanálise se assentam no freudo-marxismo de um lado e, de outro, o
alinhamento oficialista das práticas e conceitos sob a égide da ética da maturidade.
Devido à infiltração do argumento ideológico da “guerra psicológica”, o campo se
descaracteriza em chave heterônoma, sob o paradoxo do processo de grande
popularização do freudismo a que se denomina boom da psicanálise. Da segunda metade
dos anos 1970 em diante, quando o regime ensaia a distensão e inclui o horizonte da
transição democrática, consolida-se tanto o milagre da multiplicação legítima dos
processos instituintes dos movimentos psicanalíticos quanto uma biblioteca crítica
psicanalítica, responsáveis clínica e intelectualmente pela quebra da hegemonia ipeísta
no Brasil. Por fim, conclui-se que a ditadura civil-militar brasileira impôs aos movimentos
psicanalíticos um processamento heterônomo de consolidação e expansão no país, cuja
história de distorções de fronteiras entre espaços civis e militares gerou colaborações e
resistências. Essa história, portanto, reafirma o compromisso irrestrito da psicanálise com
o horizonte político da democracia para que se possa falar em agendas clínicas e
intelectuais em termos de autonomia relativa.

Psicologia

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