A SENHORA 2 E O SENHOR 2 TEXTO DA CONTRACAPA “Você escreve bem, Tião. Escreva um livro que ajudo na capa.” Assim falou minha amiga. Essa ordem mental tirou-me o sono. Não conseguia esquecê-la. Julgava-me incapaz, porém, de atender a colega. Escrever um romance! Não tinha tal dom. “Bendita comunicação”, pensei, ao ser agraciado com excitante ideia: já que aquela mensagem estava me causando literária insônia, sobre comunicação escreveria. Em represália, deixá-la-ia acordada até nas entrelinhas. Encontrado o tema, despertei a imaginação e me vi na pousada de D. Cecília, ouvindo-a declamar: “É difícil perdoar? Mas quem disse que é fácil se arrepender?” Acordei o ciúme da Miraia e ouvi o desabafo: “Que legal, Simas! Quanta intimidade! A Tâmi! Quer dizer que vocês conversam por quatro minutinhos, e a Tâmita, mulher com expectorante nome de remédio, já vira a sonhadora Tamizinha. Tou gostando do filme.” De olhos esbugalhados, fantasiei esta cena: “... o mamilo direito perfurando-me as costas; o esquerdo também; os dois a escutar-me um ‘oh’ e a escutar-lhe um ‘hã’. Minha libido, esperançosa, fitou-os. A dela, agoniada, lançou-me pedinte olhar, deu sugestiva piscadela em direção ao leito e engasgou-se de tanto sorrir.” Vai encarar? Ou vai curvar-se ao seu lado “DOIS” e dormir, temeroso de enfrentar tão extravagante prosa?