A sociedade de Confiança

A sociedade de Confiança Alain Peyrefitte


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A sociedade de Confiança


Ensaio Sobre a Origem e Natureza do Desenvolvimento




É Alain Peyrefitte, político gaullista prestigioso, onze vezes ministro, hoje senador, intelectual ilustre e autor de mais de uma dúzia de livros de sucesso, quem melhor tem procurado analisar o que chama "le mal français". Ao vislumbrar as condições da sociedade de confiança que favorece o progresso, esse grande ensaísta francês enfrenta um de seus maiores desafios. No esforço hercúleo de penetrar no "mistério" ou "milagre" do desenvolvimento (uma de suas obras prévias chama-se, justamente Du miracle en économie — 1995), Peyrefitte é o maior participante francês num debate ardente que data da publicação, em 1905, de um [sic] das obras fundamentais da sociologia moderna, A ética protestante e o espírito do capitalismo, de Max Weber. A polêmica que esse livro provocou muito longe ainda está de se esgotar — e confesso me haver também dedicado, com furor, a promovê-la em nosso país — de modo a escaparmos do determinismo materialista que fez a fortuna inidônea do marxismo. Peyrefitte elaborou extensamente o tema desde a publicação daquele primeiro título há vinte anos, até seus mais recentes que se sustentam em suas lições no Collège de France, em 1995 e 1996. É esta obra fundamental, A sociedade de confiança que foi precedida de um compte-rendu do Colóquio Internacional, realizado no Institut de France em setembro de 1995. O Colóquio teve como tema toda a obra sociológica de Peyrefitte. Do colóquio tive a honra de participar, surpreendendo-me com a identidade dos problemas levantados, em França e no Brasil, quanto às condições culturais ou psicossociais do desenvolvimento e às políticas adequadas a seu sucesso.

Em La société de confiance, o pensador francês coroou seu trabalho monumental com um estudo histórico e sociológico exaustivo da ética de livre iniciativa e incentivos ao setor privado da economia, suscetíveis de assegurarem o progresso. Renovando assim com o inquérito que, pela primeira vez, Adam Smith empreendeu no sentido de descobrir "as causas da riqueza das nações", Peyrefitte acentua o paralelismo entre o que chama a "divergência" religiosa entre os latinos, autoritários, patrimonialistas e desconfiados — e os holandeses e anglo-saxões, mais liberais, mais tolerantes, mais livres e nutrindo maior confiança nos méritos de um mercado — divergência que explica o ritmo diverso de crescimento e progresso das respectivas sociedades. Esse desenvolvimento tem sido sustentado, de um lado, pelas condições culturais de "confiança" dos cidadãos uns nos outros; e na capacidade do Estado de Direito fazer cumprir o princípio pacta sund servanta, ou seja: os contratos devem ser respeitados e a honestidade é um pressuposto de toda transação comercial. A divergência no desevolvimento se foi acentuando a partir da Contra-Reforma. Peyrefitte compara, por exemplo, o take-off inglês com o declínio espanhol nos séculos XVIII e XIX. Chegando a nossos dias, verifica como a mentalidade desconfiada, o pressuposto generalizado em nosso meio que todo o mundo é desonesto e sem-vergonha até prova em contrário, os governos intervencionistas e tacanhos, a resistência entranhada a qualquer inovação e o conservadorismo inquisitorial da Igreja, cooperam para erguer barreiras e impasses a qualquer oportunidade de avanço nos países obedientes à ética reacionária de fechamento, intervencionismo governamental e regularização.

Os dados elementares do desenvolvimento são a liberdade, a criatividade, a responsabilidade. Mas autorizar os recursos da liberdade, com autonomia individual, e explorar essas virtudes no período educacional da vida fazem supor uma confiança muito forte no homem. É esse o fator por excelência do desenvolvimento. Peyrefitte amplia e aprofunda estudos setoriais que, em seu The moral basis of a backward society, foram realizados pelo sociólogo americano Edward Banfield, por exemplo, na análise do comportamento familista, desconfiado e introvertido numa aldeia do mezzogiorno italiano, dominada pela Máfia; e pelo nipo-americano Francis Fukuyama que, em seu último livro, Trust, tenta explicar o sucesso das sociedades da Ásia oriental. Querer o desenvolvimento, o progresso, o enriquecimento do país comporta, na conclusão do livro, a "confiança na confiança". Peyrefitte é otimista. O tom hortativo do trabalho representa um esforço de um homem que, hoje no topo da elite intelectual francesa, incita seus compatriotas à superação dos traços culturais viciosos que configuram o "mal francês".



J. O. de Meira Penna - texto da capa.

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