Cinco décadas depois da publicação Cem Anos de Solidão, a América Latina parece condenada, definitivamente, “a não ter uma segunda oportunidade sobre a terra”. Sufocada por políticas econômicas que reforçam a condição de periferia primário-exportadora, por classes dirigentes cada vez mais aliadas ao capital europeu e norte-americano, a região latino-americana foi varrida das manchetes dos jornais tal qual a fantástica Macondo foi varrida da História pela tormenta que veio do Norte.
Este livro, resultado de pesquisa defendida na ECA-USP e lançado pela Editora Alexa Cultural, procura desvendar os fatores que levaram a essa exclusão e lança luzes do que pode ser feito no jornalismo brasileiro para tentar tirar a América Latina desta solidão.
O estudo é baseado em dois eixos: o ambiente sócio-histórico e o ambiente jornalístico. É da intersecção destes campos que se monta o cenário de solidão da América Latina. A pesquisa demonstra que o continente latino-americano é cindido, por processos históricos, no que a pesquisa definiu como 'América Latina Oficial' e na 'América Latina Popular'. A indústria jornalística é o aparelho ideológico da 'América Latina Oficial' assim como a imprensa alternativa é da 'América Latina Popular'.
A América Latina está ausente do noticiário. Não se encontram nas páginas dos jornais as histórias da América Central, as músicas dos pampas argentinos, as lutas na Selva Amazônica, a fome dos descendentes maias, a culinária andina, a literatura guatemalteca, a enxada do sertanejo. É como se a América Latina se resumisse apenas ao litoral e às grandes cidades. Ou, o que é mais grave, os meios de comunicação de massa assumem como América Latina apenas o que já foi chancelado pela indústria cultural hegemônica. Desmonta-se o mito da imparcialidade e conclui-se que para a América Latina não ser condenada à solidão é preciso desenvolver e estudar os movimentos sociais latino-americanos, incluindo seus processos de comunicação.
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