A inquietude e o questionamento de si e do mundo são marcas definidoras da poesia de Pollyanna Furtado. É evidente nos poemas que compõem este livro o caráter ontológico de suas reflexões: o eu lírico vive uma experiência excruciante na sua relação com o mundo – eivado de sombras e esvaziado de sentido. Sua atitude, entretanto, não é de desistência ou de negação de tudo, mas de comprometimento com um olhar mais profundo e revelador das possibilidades de seu estar-no-mundo e o encontro de uma nova experiência capaz de lhe iluminar o caminho – como expressa no poema “A outra margem”: “O tempo finalmente se azula / e rompe a banalidade dos dias. / Enquanto os exploradores de abismos / vacilam à vertigem do possível. // Adivinho a outra margem. / Minha alma antiga, / se entrega, sem solenidade, / num mergulho plástico, / ao eterno agora”.
“À Sombra do Iluminado” é um livro que nos convida a pensar sobre a nossa presença no mundo – nossos medos, busca e valores, capazes de nos ajudar nessa travessia de “Vias estreitas / atalhos sem avisos”. A geografia de nosso existir é acidentada e comporta muitos riscos. E contra a incerteza de tudo, o ser humano é chamado a todo instante a ressignificar sua história como condição para seguir. Afinal, “A vida não tem norte nem destino. / É um caminhar sem fim”. Nisso está a mágica de tudo: afirmar nossa capacidade, justificar nosso existir, nossa humanidade e, em meio às sombras, ajudar na tessitura dos sonhos. Sem perder a delicadeza de perceber as pequenas revelações que se anunciam nas coisas mais simples: “De tardezinha / a lua surge fininha. / Sorriso no céu”. Pollyanna Furtado vive o seu espanto de ser-no-mundo e o transfigura poeticamente: “Eu vi uma rosa rude / se fechar na boca da noite”. A escuta de seus versos é uma revelação.
Tenório Telles
LIVRO FINALISTA DO PRÊMIO JABUTI 2018
Poemas, poesias