Ninguém nunca percebeu a fatalidade que já é viver assim, por si só. Já basta o peso do medo, a âncora da insegurança presa nos calcanhares. Ancorado no inferno, resta observar de pé e com todo espanto possível as coisas explodirem, estilhaçarem – confetes e serpentinas em nome do prazer. Mas continuam as desculpas extravagantes pra dissimular os atos, as correrias: fa¬zer tudo que se pretende fazer até o fim da vida, será? Mas o fim é na próxima esquina, é já, é no próximo bloco. E ninguém fez lista nenhuma, fez merda nenhuma da própria vida. O de¬sespero de saber que passou o tempo, os sinos vão dobrar por cada um definitivamente e absolutamente nada foi feito de si mesmo. Só acordos temporários, boicotes permanentes, adiamentos perpétuos.
Contos